Os homens dos “tempos trabalhosos” serão ingratos | Pastor Cleber
ganhe-dinheiro-com-kwai

Os homens dos “tempos trabalhosos” serão ingratos

Se concordamos que “a gratidão é a memória do coração”, devemos cuidar para que não sejamos, a exemplo de muitos, acometidos pela demência

Bíblia

“Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos.” (2 Timóteo 3:2 – grifo do autor)


Pr. Cleber Montes Moreira


Os homens dos “tempos trabalhosos” serão acháristoi (ἀχάριστοι), ingratos, desprezíveis, mal-agradecidos. O que Paulo afirma é que “a capacidade de agradecer e reconhecer seu benfeitor e benfeitoria seria escassa. Seria um período de extrema ingratidão. Um tempo de homens implacáveis, homens que não exerceriam a graça de Deus.”1 Champlin nos diz que “esse pecado também é atribuído aos pagãos”2 (Romanos 1:21). Considerando que Paulo fala sobre um desvio de dentro para fora, ou seja, que ocorreria no seio das igrejas, podemos concluir que a apostasia da fé é o espírito pagão que se levanta entre os que confessam a Cristo, sendo uma característica dos falsos crentes. Quanto mais estes cedem ao secularismo, mais se nota o comportamento mundano no seio das igrejas, especialmente a ingratidão.

Certa ocasião, quando Jesus ia para Jerusalém, passando pela divisa de Samaria e Galileia, ao entrar num povoado, “dez leprosos dirigiram-se a ele. Ficaram a certa distância e gritaram em alta voz: ‘Jesus, Mestre, tem piedade de nós’” (Lucas 17:12,13 — NVI). O relato bíblico diz que os dez foram curados, mas só um voltou para agradecer: “Um deles, quando viu que estava curado, voltou, louvando a Deus em alta voz. Prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradeceu. Este era samaritano” (Lucas 17:15,16 — NVI). Este não era judeu, mas samaritano. Os demais foram cumprir o ritual religioso: deveriam se mostrar aos sacerdotes, para obterem o “atestado” de cura e serem reintegrados à sociedade.

A pergunta que deve ser feita a esta sociedade ingrata e incrédula é: “Não foram purificados todos os dez? Onde estão os outros nove? Não se achou nenhum que voltasse e desse louvor a Deus, a não ser este estrangeiro?” (Lucas 17:17,18 — NVI). Onde estão aqueles que têm recebido da graça divina? De certa forma o comportamento de hoje se assemelha ao do passado: os rituais religiosos têm proeminência sobre a gratidão. Em vez de irem a Deus para agradecer, as pessoas se preocupam mais em se mostrar para os sacerdotes. A gratidão está escassa na sociedade, mas ela é esperada principalmente daqueles que já receberam a salvação pela graça. A ingratidão entre os que se dizem crentes é prova incontestável de que a apostasia da fé é uma realidade entre os evangélicos.

É perceptível na conduta do “povo de Deus” hoje o mesmo comportamento de Israel ao longo de sua história registrada no VT: “Durante quarenta anos fiquei irado contra aquela geração e disse: ‘Eles são um povo de coração ingrato; não reconheceram os meus caminhos’”; “Mas logo se esqueceram do que ele tinha feito e não esperaram para saber o seu plano”; “Esqueceram o que ele tinha feito, as maravilhas que lhes havia mostrado” (Salmos 95:10; 78:11; 106:13 — NVI). Se concordamos que “a gratidão é a memória do coração”, devemos cuidar para que não sejamos, a exemplo de muitos, acometidos pela demência.

No início de uma carta de Inácio a um de seus primeiros companheiros, Simão Rodrigues, lemos:

À luz da divina bondade me parece que, embora outros possam pensar de modo diferente, a ingratidão é o mais abominável dos pecados aos olhos de nosso Criador e Senhor, e de todas as criaturas capazes de aproveitar-se em sua divina e eterna glória. Já que é esquecimento das graças, bens e bençãos recebidas; e além disso aqui se encontra a causa e começo de todos os pecados e desgraças. Pelo contrário, a gratidão que reconhece as bênçãos e bens recebidos é estimada e amada não só na Terra senão também no Céu (18 de março de 1542).

O escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe disse: “Ingratidão é uma forma de fraqueza. Jamais conheci homem de valor que fosse ingrato.” Até mesmo dos autores seculares podemos aprender sobre a ingratidão. O escritor iraniano Muslah-Al-Din Saadi afirmou: “O coração ingrato assemelha-se ao deserto que sorve com avidez a água do céu e não produz coisa alguma.” Certamente que a ingratidão revela um espírito fraco e improdutivo. Como bem disse Miguel de Cervantes, “a ingratidão é filha da soberba”.


 “E sejam agradecidos”

Conta-se que três homens, sendo um ingrato, um egoísta e um agradecido, encontraram pela manhã em suas portas um buquê de rosas, tendo cada um reagido de modo diferente diante do inusitado presente.

O ingrato atirou suas rosas numa lixeira quando ia a pé para o serviço. O egoísta apanhou as rosas, sentiu seu perfume, e colocou-as num jarro para decorar sua sala. O agradecido, radiante de alegria pelo presente recebido, foi visto, enquanto fazia sua caminhada matinal, distribuindo rosas para todos que encontrava. Sempre que ofertava uma rosa, outra surgia milagrosamente em seu lugar, de forma que ao voltar para casa seu buquê ainda contava com a mesma quantidade de rosas de antes, e elas não murchavam.3

As pessoas ingratas são aquelas que tendo recebido da graça, jogam no esquecimento o que receberam. As egoístas são as que recebem e guardam para si. As agradecidas são as que recebem e compartilham com alegria.

Quando reconhecemos o favor divino, além de manifestarmos nossa gratidão a Deus, comunicamos graça ao mundo. O que recebemos — δωρεὰν (dórean) como um presente gratuito, sem pagamento, livremente, sem merecimento4 —, transmitimos, sendo não apenas retentores, mas compartilhadores da graça: “Graciosamente recebestes, graciosamente dai” (Mateus 10:8 — BKJA).

É com este sentimento que o salvo por Cristo, em gratidão ao Salvador, se dispõe a servir a Deus e ao próximo. O problema é que este espírito de gratidão está cada vez mais escasso. Certa ocasião, um jovem ao ser consultado pela comissão de indicações de sua igreja sobre a possibilidade de assumir um cargo para o ano seguinte, logo quis saber: “Quanto receberei por isso?” Ele não considerou servir com alegria àquele que para salvá-lo enviou seu Filho unigênito, nem que aquele cargo seria uma oportunidade de comunicar graça aos irmãos — ele foi ingrato, como muitos têm sido.

Paulo diz que devemos ser eucháristoi (εὐχάριστοι), agradecidos5. “E sejam agradecidos” (Colossenses 3:15 — NVI) faz parte das orientações que o apóstolo dá aos salvos, àqueles que tendo ressuscitado com Cristo devem focar nas coisas do alto, e não nas terrenas, e incorporar em seu viver os valores do Reino de Deus. É assim que “tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai” (Colossenses 3:17 — NVI).


“Bendiga ao Senhor a minha alma! Não esqueça de nenhuma de suas bênçãos!” (Salmos 103:2 — NVI)


1 http://www.ibcnovohamburgo.com.br/2018/09/27/discernindo-o-tempo/ (acessado em 31 de julho de 2019)

2 Champlin, Russell Norman, Ph. D., Comentário Bíblico, Volume 5, página 386, Hagnos, 2001

3 Texto adaptado de “O Presente das Rosas”, de autoria desconhecida.

4 https://biblehub.com/greek/1432.htm (acessado em 01 de agosto de 2019)

5 https://biblehub.com/greek/2170.htm (acessado em 31 de julho de 2019)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ganhe-dinheiro-com-kwai