Os homens dos “tempos trabalhosos” serão desobedientes a pais e mães | Pastor Cleber
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Os homens dos “tempos trabalhosos” serão desobedientes a pais e mães

Filhos desobedientes a pais e mães são uma das características mais evidentes dos “tempos trabalhosos”; eles não são obra do acaso, mas frutos de uma sociedade sem compromisso com Deus

arte de rua
Imagem de Jana V. M. Por Pixabay

“Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos.” (2 Timóteo 3:2 — grifo do autor)


Pr. Cleber Montes Moreira


Os homens dos “tempos trabalhosos” também serão goneusin apeitheis (γονεῦσιν ἀπειθεῖς), “desobedientes a pais e mães”. Na Bíblia King James Atualizada, “desrespeitosos aos pais”. Escrevendo aos Romanos sobre os que não temem a Deus, Paulo diz que “desobedecem a seus pais” (Romanos 1:30 — NVI), e a Tito escreve: “Eles afirmam que conhecem a Deus, mas por seus atos o negam; são detestáveis, desobedientes e desqualificados para qualquer boa obra” (Tito 1:16 — NVI). Para Hernandes Dias Lopes “este é o maior sinal de decadência de um povo. Quando os filhos não respeitam mais os pais, perderam por completo qualquer respeito à autoridade. E o que se espera daí é a anarquia e a confusão”.1 Matthew Henry afirma que “quando os filhos são desobedientes aos seus pais demonstram que os tempos sejam perigosos”.2 William Barclay corrobora com esta conclusão ao afirmar que “o sinal da suprema decadência de uma civilização se dá quando a juventude perde todo o respeito pela idade, e se nega a reconhecer a dívida impagável e seu dever básico para com aqueles que lhe deram a vida”.3

É inegável que esta desobediência, insubordinação, falta de afetividade para com os pais, é uma das características mais evidentes deste tempo, porém, relembro, Paulo está falando de ocorrências no seio religioso. Fato é que há em nossas igrejas pessoas que se comportam assim, vivendo uma religiosidade cênica que camufla seu verdadeiro caráter. Champlin diz que “A falta de amor aos pais, além de total desconsideração para com sua autoridade, é própria do ‘paganismo’; mas igualmente caracteriza aqueles que repelem a autoridade de Deus, na ‘apostasia’”4. Isso contraria os princípios do evangelho e desagrada a Deus: “Filhos, obedeçam a seus pais em tudo, pois isso agrada ao Senhor” (Colossenses 3:20 — NVI). No Decálogo, lemos: “Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor teu Deus te dá” (Êxodo 20:12 — NVI).

Ainda que este não seja o único motivo, mas uma soma de fatores, é certo que filhos “desobedientes a pais e mães” decorrem, em muitos casos, de alguma falha na transmissão de valores, sendo, nestes casos, culpa dos pais. Sérgio Sinay, em seu livro “A Sociedade Dos Filhos Órfãos”5, nos alerta sobre um dos maiores problemas da sociedade: “o abandono da responsabilidade de criar os filhos”. Segundo ele, “boa parte dos pais de hoje não consegue estabelecer uma conexão real com suas crianças, o que resultará em uma geração altamente influenciada pelos maus valores da TV, da internet e do marketing agressivo”.

É verdade que a correria dos tempos modernos, comportamento que Mário Sérgio Cortella chama de “miojização da vida”, tem feito com que pais se abdiquem de responsabilidades na formação dos filhos. Esta tarefa normalmente é terceirizada, passando a ser delegada aos avós, babás, escolas, igrejas e outros. Muitas vezes as crianças são submetidas aos cuidados da TV, a babá moderna, de onde absorvem maus valores, bem como entregues aos smartphones, o que as expõe a riscos e más influências. Ouvi sobre pais que lutam para que as creches abram aos sábados, domingos e feriados, para que tenham onde deixar os filhos. Tais expedientes também fazem parte da realidade de pais cristãos que, agindo conforme o mundo, se esquecem do dever de criar os filhos no “caminho em que devem andar” (Provérbios 22:6). Para piorar, a sociedade (inclusive a religiosa) exige desses filhos um padrão acima do comum ‘porque são filhos de crentes ou de pastores’, criando ambiente favorável para que muitos se afastem da fé, se desviam para as drogas e/ou criminalidade, tornem-se imorais, depressivos etc.

Se de um lado há a terceirização das responsabilidades, por outro há também o problema da superproteção. Há pais que dão aos filhos tudo o que pedem, que não lhes permite passar por frustrações, que criam pequenos “reis” e “rainhas” diante dos quais se prostram e se submetem. Estes filhos normalmente se tornarão, além de desobedientes, insubordinados, “absolutos” e infelizes.

Filhos desobedientes a pais e mães não é obra do acaso, mas frutos de uma sociedade sem compromisso com Deus, característica que se reflete também no seio religioso.

Como não se pode transferir a salvação para os filhos, os pais deveriam transmitir-lhes conhecimento, instrui-los na Palavra do Senhor, discipliná-los e prepará-los para a vida como ela é.


1 Lopes, Dias Hernandes. 2 Timóteo, o Testamento de Paulo à Igreja, página 88, Hagnos, São Paulo, 2014.

2 Henry, Matthew. Comentário Bíblico

3 Barclay, William. Comentário Bíblico. The Second Letter to Timothy, Tradução: Carlos Biagini

4 Champlin, Russell Norman, Ph. D., Comentário Bíblico, Volume 5, página 386, Hagnos, 2001

5 Sinay, Sérgio. A sociedade dos filhos órfãos, Editora Best Seller, 2012, ISBN: 978-8576844402

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