Neste tempo em que se multiplicam os que dizem falar em nome de Deus, como diferenciar aqueles que realmente têm compromisso com os ensinos de Cristo dos falsários? Como aferir a autenticidade de um profeta?
“Todo aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem a Deus. Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como ao Filho.” (2 João 1:9)
Pr. Cleber Montes Moreira
Segundo os dicionários, prevaricar é, dentre outras coisas, deixar de cumprir uma obrigação, um dever. No texto, significa desviar-se da doutrina de Cristo, “ir antes, preceder, ir além”, provavelmente uma referência aos falsos profetas, que se orgulhavam de oferecer ao povo um ensino “avançado”, conforme nos diz Fritz Rienecker e Cleon Rogers1.
João afirma que quem se desvia do evangelho de Cristo não tem parte com Deus. Assim, entendemos que o aferidor da vida cristã autêntica é o compromisso com a verdade — crer, obedecer, viver e ensinar as Escrituras fielmente —, palavra importante e oportuna neste tempo de tanta confusão e heresias que se espalham em meio às igrejas. Há muita gente com uma nova visão, uma nova interpretação e aplicação contextualizada da Palavra Sagrada segundo seu próprio entendimento ou interesse, há novas teologias e ensinos que divergem diametralmente das Escrituras.
Como lidar com os falsos mestres? João responde logo a seguir: “Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras.” (vs. 10 e 11). Em sua época, os pregadores itinerantes procuravam a hospitalidade oficial das igrejas ou as casas dos crentes para se hospedarem, uma vez que, normalmente, as pensões eram infestadas de pulgas e as estalagens eram caras. Muitos abusavam desta hospitalidade. William Barclay2 cita Luciano, um escritor grego, que em seu livro, intitulado O Peregrinus, relata sobre um homem que tinha encontrado uma maneira cômoda de viver sem trabalhar. Era um enganador itinerante que abusava da hospitalidade das igrejas e cristãos por onde passava, levando uma vida de luxo e a seu gosto.
Entre tais viajantes havia muitos enganadores. Matthew Henry3 nos exorta: “Quanto mais abundem os enganadores e os enganos, mais alertas devem estar os discípulos.” Vários escritores neotestamentários, bem como o próprio Senhor, trataram de advertir os crentes acerca dos falsos profetas. Eles não são uma novidade, há muito que espalham suas heresias, contaminando as mentes dos desacautelados.
O ensino joanino é que os crentes não deveriam dar hospedagem aos mestres hereges, porque isso comprometeria a Sã Doutrina. A saudação indicava a “entrada na comunhão com a pessoa saudada”, por isso João diz: “Nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras.” Assim, sua mensagem é que não devemos ser receptivos aos enganadores, que não estabeleçamos nenhum vínculo de comprometimento com eles para que não sejamos contaminados com suas mentiras e nem sejamos feitos seus cúmplices. É triste perceber que muitos crentes (e mesmo muitas igrejas) estão abertos para qualquer novidade, não tendo senso crítico nem critérios para avaliar se tais ensinos procedem ou não de Deus, como nos adverte João em sua Primeira Carta: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.” (1 João 4:1).
O que difere um falso mestre daquele que realmente transmite os ensinos de Cristo é sua fidelidade à Sã Doutrina. “Todo aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem a Deus. Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como ao Filho” (v. 9).
E como podemos aferir a autenticidade do profeta? Examinando as Escrituras, conservando um espírito bereano, cultivando o senso crítico. Quem conhece a Palavra de Deus não se engana, mas quem despreza o seu conhecimento é enredado facilmente pelos falsários. Lembre-se sempre do que Deus disse pela boca do profeta Oseias: “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento…” (Oseias 4:6). Que o mesmo não ocorra conosco.
1 RIENECKER, Fritz - ROGERS, Cleon, Chave Linguística do Novo Testamento Grego, página 593, Vida Nova, 1985.
2 BARCLAY, William, Comentário Bíblico, 2 João.
3 HENRY, Matthew, Comentário Bíblico, 2 João, CPAD, 2003
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