Os que sofrem da Síndrome de Diótrefes: adoram os holofotes, querem estar no controle de tudo, são maledicentes, não ensináveis, autoritários, não querem ser liderados, e são uma péssima influência
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“Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos.” (2 Timóteo 3:2)
Pr. Cleber Montes Moreira
Paulo nos apresenta outra característica dos homens dos “tempos trabalhosos”. O escritor usa hyperēphanoi (ὑπερήφανοι), para descrever aquele que é “arrogante, altivo, alguém que se julga superior aos outros”1, orgulhoso, desdenhoso, prepotente; aquele que exalta a si mesmo e se coloca acima dos outros que, supostamente, são menos importantes.2
Há uma expressão que ilustra bem este tipo de gente: “salto alto”. No futebol dizemos que o time “entrou em campo de salto alto” quando uma equipe, considerando a outra inferior, vai para o jogo tão segura de si, tão orgulhosa, que acaba perdendo. Talvez isso explique a inesquecível derrota do Brasil para Alemanha pelo placar de 7 a 1. Isso lembra outra expressão: “Quanto mais alto, maior o tombo”. Há pessoas que se exaltam tanto, mas tanto, que são surpreendidas por quedas muito violentas.
Li uma história de um garotinho que disse para sua mãe:
— Mãe, eu tenho três metros de altura.
Ela respondeu:
— Não, meu amor, você já é um homenzinho, mas não é tão alto assim.
— Sou sim, mamãe. Eu medi!
— É mesmo, meu amor? E com que você se mediu?
— Com este “metro” aqui, ó.
E mostrou para a mãe uma régua de 30 cm.
O orgulhoso tem uma régua própria para medir a si mesmo, e uma outra para medir os demais: a régua que usa para medir a si é sempre maior.
Certa vez li um conto que dizia sobre um galo que reinava soberano em seu grande quintal. Orgulhoso de sua função, nada acontecia sem que ele soubesse e participasse. Com sua força descomunal e coragem heroica, enfrentava qualquer perigo. Era especialmente orgulhoso de si mesmo, de suas armas poderosas, da beleza colorida de suas penas, de seu canto mavioso.
Toda manhã acordava pelo clarão do horizonte, e bastava que cantasse duas ou três vezes para que o sol se elevasse no céu. “O sol nasce pela força do meu canto”, dizia ele. “Eu pertenço à linhagem dos levantadores do sol. Antes de mim era meu pai; antes de meu pai era meu avô…”
Um dia uma jovem galinha, de beleza esplendorosa, veio morar em seu quintal. Por ela ele logo se apaixonou, e a paixão correspondida culminou numa noite de amor para galo nenhum botar defeito: naquela noite os dois perderam a hora e só foram dormir de madrugada. Foi assim que algo novo aconteceu: Os primeiros raios de luz no horizonte não acordaram o galo, como de costume. Só depois do meio dia que ele abriu os olhos, quando o sol já brilhava forte no meio do céu azul. Foi aí que percebeu a realidade e, desolado, exclamou em pensamento: “Então não sou eu quem levanta o sol!” E caiu em profunda depressão.
O reconhecimento de que nada havia mudado no galinheiro enquanto dormia trouxe-lhe um forte sentimento de inutilidade, e um questionamento incontrolável de sua própria competência. Com um “nó na garganta” e dor no peito a angústia se instalou e, de tanta vergonha, pensou até em suicídio. “O que vão pensar de mim?”, murmurou para si mesmo, enquanto assustado se lembrava de um concorrente que queria assumir seu posto…
Talvez tenha sido este momento de humildade, único em sua vida, que o tenha ajudado a se lembrar que lá no fundo do galinheiro passava o dia inteiro empoleirado um velho galo, filósofo que pensava e repensava a vida dos galináceos, e que costumava com seus sábios conselhos dar orientações úteis a quem o procurasse com seus problemas existenciais.
O velho sábio o olhou de cima de seu filosófico poleiro, enquanto ele vinha se esgueirando, tropeçando nos próprios pés, como que se escondendo de si mesmo. E disse: “Olá! Você nem precisa dizer nada, do jeito que você está. Aposto que você descobriu que não é você quem levanta o sol. Como foi que você se distraiu assim? Por acaso andou se apaixonando?” Sua voz tinha um tom divertido, mas, ao mesmo tempo, compreensivo, como se tudo fosse natural para ele. A seu convite, o galo angustiado, empoleirou-se a seu lado e contou-lhe a sua história. O filósofo ouviu cada detalhe com a paciência dos pensadores. Quando o consulente já se sentia compreendido, o velho sábio fez-lhe uma longa preleção. Foi assim que aquele galo orgulhoso aprendeu, com humildade, a lição: Ele não deveria se achar onipotente, nem completamente inútil, mas deveria ter uma visão realista das coisas e de si mesmo. Foi assim que no dia seguinte, aos primeiros raios da manhã, aquele galo cantou para anunciar o sol nascente, e a vida continuou seu curso normal.3
Tem gente na igreja que se acha insubstituível: que se considera a “coluna da igreja”, que pensa que sem ele as coisas não acontecem, e que até usa desta posição (fictícia, fruto de seu orgulho) para chantagear os demais.
Conheci um homem rico e orgulhoso que doou um terreno para uma igreja onde era membro, e disse que bancaria toda a construção do templo, mas com uma exigência: tudo deveria ser feito do jeito dele, coisa que os irmãos rejeitaram. Tendo sua oferta recusada, aquele prepotente desqualificou seus irmãos de fé, e ainda disse que aquela igreja não conseguiria nada sem ele. Para encurtar a conversa, hoje a igreja tem um belo templo construído. Como aquele galo, imagino que aquele homem tenha percebido que não é ele quem faz o sol se erguer no horizonte.
João menciona em sua Terceira Carta um certo Diótrefes: “Escrevi à igreja, mas Diótrefes, que gosta muito de ser o mais importante entre eles, não nos recebe. Portanto, se eu for, chamarei a atenção dele para o que está fazendo com suas palavras maldosas contra nós. Não satisfeito com isso, ele se recusa a receber os irmãos, impede os que desejam recebê-los e os expulsa da igreja” (3 João 1:9 — NVI). Seu nome significa “alimentado por Júpiter”. Além de ser o maior planeta do sistema solar, na mitologia era considerado o deus dos céus e dos trovões, além de rei dos deuses. Pelo que percebemos, o nome descrevia bem o comportamento daquele irmão orgulhoso. Do pouco que nos é dito sobre ele, logo percebemos que era alguém que gostava de um pedestal, altivo, orgulhoso, rebelde, ambicioso, não hospitaleiro, insubordinado… Ele falava mal dos irmãos, não os recebia e ainda expulsava da igreja os que queriam recebê-los. Era um ditador.
Há muita gente sofrendo da Síndrome de Diótrefes: buscam holofotes, querem controlar tudo, são maledicentes, não ensináveis, autoritários, não gostam de ser liderados, e influenciam para o mal.
Diz o sábio: “Você conhece alguém que se julga sábio? Há mais esperança para o insensato do que para ele” (Provérbios 26:12 — NVI).
O célebre Franklin conta que, numa visita que fez a um sábio filósofo, quando se retirou ele o fez passar por um corredor estreito e curto que tinha uma travessa colocada em altura pouco inferior à de um homem.
— Caminhávamos conversando, quando o sábio gritou: “Abaixai-vos, abaixai-vos!” Não compreendi o que me queria dizer, senão quando senti minha cabeça bater de encontro à madeira.
— Você é jovem — disse-me —, e você tem o mundo pela frente. Abaixe-se para o atravessar e você poupará mais de um choque e decepção. Vi muitas vezes o orgulhoso humilhado, e muitas frontes vergonhosamente abatidas por se terem se elevado demais.
Tiago escreveu: “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes” (Tiago 4:6 — NVI). E Paulo nos ensinou este princípio:“Pois pela graça que me foi dada digo a todos vocês: ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, pelo contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu” (Romanos 12:3 — NVI).
1 Rienecker, Fritz – Rogers, Cleon. Chave linguística do Novo Testamento grego, página 477, Vida Nova, São Paulo-SP, 1985.
2 Champlin, Russell Norman. Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, Vol 5, página 386, Editora Candeia, São Paulo – SP, 1995
3 Adaptado do texto de Maurício de Souza Lima, Psicólogo, Diretor da Sociedade de Terapia Breve (BH), Trainer em PNL pelo Southern Institute of NLP da Flórida. Fonte: https://metaforas.com.br/2000-07-08/o-galo-orgulhoso.htm
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