Pastor Cleber: outubro 2020
ganhe-dinheiro-com-kwai

Onde está a cruz?

A cruz é o lugar onde renunciamos à nossa própria vida para desfrutarmos da vida abundante que só Cristo pode dar; uma vida cujo prazer, contentamento e propósito está naquele que é o autor e consumador da nossa fé. A cruz é o lugar onde é mortificado o adorador de si mesmo para, na Palavra e pelo poder do Espírito, ser gerado um novo ser capaz de adorar a Deus em espírito e em verdade

ao pé da cruz
Imagem: Pixabay

“Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; e vos renoveis no espírito da vossa mente; e vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade.” (Efésios 4:22-24)


Pr. Cleber Montes Moreira


Numa postagem no Facebook uma internauta elogiava jovens evangélicos de um determinado grupo por sua prontidão para servir “atendendo ao chamado”. Nas fotos, jovens descontraídos, demonstrando alegria, em cenas divertidas. Nos vídeos, coreografias ao som de músicas dançantes em ambiente com paredes escuras e luzes de neon — não consegui identificar se a celebração cúltica ocorria num templo religioso ou outro espaço próprio para shows. No palco “animadores” e “dançarinos” comandavam a galera, tendo num telão projetada a imagem de um leão. Durante aquela performance espetacular a maioria, aglomerada, usava máscaras — não entendi se em obediência a algum protocolo determinado por algum decreto, em decorrência da pandemia, ou se, inconscientemente, como indicativo de falsa espiritualidade.

 

Observando atentamente aquelas fotos e vídeos, notando com atenção cada cena registrada do ambiente, surgiu em minha mente uma pergunta inquietante: Onde está a cruz? Não falo sobre uma cruz de madeira, metal ou outro material, pendurada em algum pescoço, fixada ou projetada numa parede — porque este tipo de cruz não havia, mesmo —, mas da cruz do evangelho. Falo da cruz sobre a qual Jesus falou: “E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim” (Mateus 10:38). Falo da cruz sem a qual ninguém é, verdadeiramente, cristão. Falo da cruz de quem renunciando à sua vida, por amor ao Senhor, encontra a vida abundante que só Cristo pode dar (Mateus 10:39); uma vida cujo prazer, contentamento e propósito está naquele que é o “autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus” (Hebreus 12:2); uma cruz pela qual somos libertos da antiga natureza, do velho modo de viver, corrompido pelos desejos impuros e pelo engano, tendo nossos pensamentos e atitudes renovados pelo Espírito Santo, sendo, agora, revestidos por uma nova natureza, criada para ser justa e santa, segundo o padrão de Deus (confira Efésios 4:22-24); falo da cruz que nos transforma em “verdadeiros adoradores” cuja adoração é “em espírito e em verdade” (João 4:22-24), não na carne, não no engano, não movida pelo hedonismo, tendo não o homem, mas Cristo como centro e Sua glória como propósito.

 

Culto a Deus não é oferecido com agitação de corpos, danças, gritos, cambalhotas, declarações triunfalistas, sermonetes descontextualizados… Devemos aprender com Paulo que o culto racional se pratica na inconformação com o mundo, renovação da mente e na experiência da vontade de Deus mediante a apresentação dos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Romanos 12:1,2). Precisamos aprender da experiência de Isaías, quando os serafins em reverência cobriam com suas asas seus rostos e pés enquanto declaravam que “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória”, e com o profeta que, diante da presença de Deus, em temor e reconhecimento, exclamou: “Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos” (Isaías 6:3).

 

As igrejas falham quando proveem entretenimento para os jovens como estratégia para atraí-los ou “mantê-los na igreja”, produzindo, assim, um estilo carnal de ‘adoração’ descolada da cruz. Charles Spurgeon, dizia: “o diabo raramente teve uma ideia mais sagaz que sugerir à igreja que parte da sua missão é fornecer entretenimento para as pessoas, tendo em vista conquistá-las”. Não sou contra o entretenimento, no tempo e no espaço próprio, mas entendo que o “evangelho do entretenimento” não leva ninguém ao Salvador, não produz discípulos de Cristo, embora seja eficaz em produzir adesões; afinal, é natural que jovens de vida secular sejam facilmente atraídos por este tipo de oferta, uma vez que encontram na “igreja” atrativos que há mundo. Além disso, podem levar uma “vida divertida”, e até liberal, seguindo um falso evangelho capaz de aplacar suas consciências. Não é sem motivo que certa ocasião, uma famosa atriz, ao dar seu testemunho — ou tristemunho — declarou que escolheu ser membro de uma determinada igreja porque lá não havia regras, e que podia estar em comunhão com Deus e continuar fazendo tudo o que fazia antes. Certamente que o diabo se especializou em oferecer ao pecador um evangelho palatável, que não requer abnegação nem santidade, um evangelho sem exigências e sem a cruz.

 

Pensemos no que disse Joe Thorn: “A infiltração do entretenimento dentro do culto não é uma questão de estilo, mas de substância. O entretenimento é uma coisa boa, mas o seu propósito é o alívio da mente e do corpo, não a transformação da mente ou a edificação do espírito.”

Evangelho ou mero comércio?

Cada vez mais os oportunistas usam do evangelho como ferramenta para bons negócios. Quem não tem base bíblica, já não consegue mais distinguir entre o que é o evangelho e o que é apenas comércio

livraria
Imagem: Unsplash

“E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. E, por avareza, farão de vós negócio com palavras fingidas…” (2 Pedro 2:1-3)


Pr. Cleber Montes Moreira


Certa vez estive numa livraria evangélica onde fui comprar um DVD de um filme para presentear. Enquanto escolhia, achei inúmeros títulos: mensagens de cunho neopentecostal, DVDs de “louvor profético”, de “dança profética” e até de aula de dança (não era do professor Carlinhos de Jesus). A variedade é imensa e atende a todos os gostos.

Um irmão que me acompanhava olhava as Bíblias, quando me perguntou: “Você já viu a Bíblia da Mulher?” Em tom de brincadeira disse que sim, mas que ainda não havia encontrado a Bíblia do Homem. Ele respondeu: “Existe!”, o que aguçou minha curiosidade e me levou a observar as várias Bíblias à disposição na loja: Bíblia do Adolescente (essa eu já conhecia), Bíblia da Vovó (e a do vovô, não tem?), Bíblia da Garota de Fé (essa me chamou a atenção), isso sem falar na Bíblia “Batalha Espiritual e Vitória Financeira” de Silas Malafaia e tantas outras. A variedade é grande e por isso não conseguiria enumerar todos os títulos aqui.

Na mesma loja, sobre o balcão, encontrei um convite impresso intitulado “7 passos para a vitória completa”, do qual transcrevo abaixo algumas partes:

Com a presença de 7 profetas de Deus que virão de outras cidades para orar por você e abençoar sua vida (…).

Um momento especial para você que busca cura para o corpo e alma, libertação das obras malignas, prosperidade espiritual e financeira, avivamento espiritual, transformação e salvação (…).

Serão 7 quintas-feiras que vão mudar a história da sua vida.

 

Eu perguntei, em tom de brincadeira, se aquela era realmente uma livraria evangélica.

Você já reparou na quantidade de livros para campanhas, no estilo quarenta dias disso ou daquilo?

Uma vez recebi uma ligação:

— Não sei se o senhor sabe, mas nós estamos numa campanha para aumentar o conhecimento bíblico nas igrejas. — Daí em diante a pessoa começou a fazer propaganda de livros, comentários, dicionários, Bíblias… Sem muita paciência para esperar a leitura do catálogo inteiro, a interrompi dizendo que no momento não tinha interesse. Mas fiquei pensando: “Aumentar o conhecimento bíblico ou as vendas?” Qual seria seu real motivo?

O que percebo é que cada vez mais o evangelho se transforma em oportunidade para bons negócios. E vale tudo para agradar e chamar a atenção do freguês. Desde o que ocorre nas lojas ao que acontece nas igrejas, tudo gira em torno do lucro ou do aumento das entradas financeiras. A fé nunca foi tão comercializada como hoje em dia. Quem não tem base bíblica, já não consegue mais distinguir entre o que é o evangelho e o que é mero comércio.

Este é um tempo de confusão.

Profetas e jumentos

Falsos profetas falam por conta própria, falam o que querem, proferem o engano, estão em trevas e não na iluminação do Espírito Santo

jumento
Imagem: Pixabay

“E a jumenta disse a Balaão: Porventura não sou a tua jumenta, em que cavalgaste desde o tempo em que me tornei tua até hoje? Acaso tem sido o meu costume fazer assim contigo? E ele respondeu: Não.” (Números 22:30)


Pr. Cleber Montes Moreira


O profeta Balaão foi chamado por Balaque, rei dos moabitas, para amaldiçoar o povo de Israel, ao qual temia. Para isso foram oferecidas ao profeta muitas riquezas. Balaão era ganancioso. Sabia que consultando a Deus não receberia nenhuma palavra contra os israelitas, como, aliás, aconteceu. Mas, em seu íntimo desejava os presentes oferecidos. Quando seguia para se encontrar com Balaque, a jumenta de Balaão vê um anjo, mas ele não. Por três vezes, ao empacar por causa do emissário de Deus em seu caminho, a jumenta é espancada. Então, o Senhor usa a boca da jumenta e repreende a Balaão.

O que destaco no texto é o fato de Deus ter falado por meio de uma jumenta. Animais não falam, mas a jumenta falou (“E a jumenta disse a Balaão”). Deus pode usar o que quiser para falar, embora prefira falar por meio de seus profetas humanos. Ele poderia falar por meio dos anjos, enviando-os à Terra para trazer sua mensagem, mas usou deste artifício raríssimas vezes. Poderia fazer ouvir do céu a sua voz, como o som de um trovão. Poderia usar qualquer criatura ou coisa se quisesse, mas não quis. Aprouve a Deus chamar e vocacionar pessoas para o ministério da pregação de sua Palavra. É por meio destes que Ele nos fala, mediante a revelação que está em Sua Palavra, a Bíblia. Entretanto, naquela ocasião, excepcionalmente, falou por meio de uma jumenta.

Pergunto: qual o conhecimento que a jumenta tinha sobre Deus? Certamente, nenhum. Jumentos não são seres intelectuais como nós. Possuem instintos, mas não capacidade intelectiva. Assim não poderia a jumenta aprender sobre Deus, ter experiência com Deus, nem se relacionar com Ele como podem os humanos. Mas, Deus falou pela boca da jumenta.

Sem a intenção de ser indelicado, mas na tentativa de provocar uma oportuna reflexão, é que afirmo: há muitos jumentos por aí falando em nome de Deus. Pessoas que não tiveram um encontro transformador com Cristo, que não buscam o conhecimento do Altíssimo, que não manejam bem a Palavra da Verdade, que não se relacionam nem colecionam experiências com o Divino. A jumenta de Balaão possui mais crédito que estes, uma vez que aprouve a Deus usá-la, mas os profetas aqui mencionados não são chamados, muito menos vocacionados. Falam por conta própria, falam o que querem, proferem o engano, estão em trevas e não na iluminação do Espírito Santo. A jumenta foi usada por Deus, mas estes…

Um dos jumentos de nosso tempo, cujo nome não mencionarei aqui, pregou, num de seus sermões que Jesus era muito rico, que tinha uma bela casa à beira-mar, e muitas outras baboseiras. O que dizer dos pregadores da prosperidade e seus sermões desconectados das Escrituras Sagradas? É… No tempo de Balaão houve uma jumenta profetisa1, hoje, há profetas jumentos. Perdoem-me os animais!


1  Força de expressão.

ganhe-dinheiro-com-kwai