Os homens dos “tempos trabalhosos” serão profanos | Pastor Cleber
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Os homens dos “tempos trabalhosos” serão profanos

Embora pensemos em profanos como pessoas de fora, Paulo trata de ocorrências no seio das igrejas e indica este comportamento como um dos sinais dos “tempos trabalhosos”. De fato, esta é uma característica cada vez mais perceptível nos arraiais evangélicos e que comprova a crescente apostasia da fé

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Imagem de SamWilliamsPhoto. Por Pixabay 

“Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos.” (2 Timóteo 3:2 – grifo do autor)


Pr. Cleber Montes Moreira


Os homens dos tempos trabalhosos também serão anósioi (ἀνόσιοι), conforme a Almeida Corrigida e Fiel “profanos”. Há versões, como a Nova Versão Internacional, a Bíblia King James Atualizada, a Sociedade Bíblica Britânica e a Almeida Revisada da Imprensa Bíblica, por exemplo, que traduzem por “ímpios”. Alguns escritores usam “perverso”. Indica um comportamento sem reverência, sem respeito e de total desconsideração pelo que é sagrado, um desrespeito intencional das coisas de Deus.1 Para Champlin “irreverentes”, pessoa desprovida de santidade, iníqua, sem restrição na maldade praticada. “Tais indivíduos se desfarão de toda a restrição de ordem religiosa, fazendo de si mesmos pequenos deuses.”2 Segundo Hernandes Dias Lopes, “indecente”, “ou seja, o indivíduo que vive abertamente no pecado sem qualquer recato ou pudor. Trata-se daquela pessoa que já perdeu a vergonha e cujo único objetivo de vida é satisfazer seus desejos pervertidos.”3 William Barclay comenta: “O homem dominado por suas paixões mais baixas as gratificará da maneira mais desavergonhada, tal como o mostram as ruas de qualquer grande cidade a altas horas da noite. O homem que esgotou os prazeres normais da vida, e ainda não está satisfeito, buscará emocionar-se com prazeres anormais e que até envergonha nomear. Mais uma vez numa sociedade decadente e envilecida, podem-se esquecer os bons costumes.”4

Na pratica, o é que profanar? Segundo o Dicionário Michaelis, profanar é “violar ou tratar com desrespeito alguma coisa sagrada ou venerável; aviltar pelo uso profano; cometer uma transgressão de um princípio sagrado, de uma regra etc.; tornar maculado ou impuro; Insultar algo ou alguém digno de respeito.”5

O profano/ímpio/perverso/iníquo é aquele que não tem fé, ainda que neste caso sua incredulidade esteja camuflada por um comportamento religioso: “com aparência de piedade, todavia negando o seu real poder” (2 Timóteo 3:5 — BKJA). Este comportamento nos faz lembrar o caso de Nadabe e Abiú, pertenentes à tribo de Levi, sucessores direto de Arão. Apesar de todos os privilégios de que desfrutavam junto à congregação de Israel, não honraram o seu ministério, antes ignoraram a recomendação de Moisés e ofereceram fogo estranho ao Senhor. “De acordo com as instruções que o Senhor, através de Moisés, transmitira aos filhos de Israel, somente o sumo sacerdote estava autorizado a oferecer o incenso no altar de ouro (Êxodo 30:7-9). Todavia, observa-se que ambos, ignorando tal preceito, entraram no lugar sagrado e trouxeram um fogo que Deus não ordenara”6 (Leia Levítico 10:1,2). Mais tarde, pela boca do profeta Ezequiel, Deus reclamou: “Seus sacerdotes cometem violência contra a minha lei e profanam minhas ofertas sagradas; não fazem distinção entre o sagrado e o comum; ensinam que não existe nenhuma diferença entre o puro e o impuro; e fecham os olhos quanto à guarda dos meus sábados, de maneira que sou desonrado no meio deles” (Ezequiel 22:26 — NVI)

Não é leviano afirmar que todo falso crente, bem como todo líder espiritual que, travestido de santidade e autoridade espiritual, prega um evangelho no qual ele mesmo não crê nem pratica é profano; este é o tipo que, ostentando aparência religiosa, vive na carne e não no espírito, contrariando, assim, a exortação paulina: “vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne” (Gálatas 5:16 — NVI). Embora normalmente pensemos em profanos como pessoas de fora, que profanam a fé, também há profanos nas igrejas (é sobre estes que Paulo fala), e esta é uma característica cada vez mais perceptível nos arraiais evangélicos, o que indica um comportamento de apostasia da fé.

Tudo o que ofende a dignidade de Deus é profanação. Em Isaías temos um relato de que a religiosidade de Israel, por causa de seus desvios e pecados, consistia numa profanação:

“Para que me oferecem tantos sacrifícios?”, pergunta o Senhor. Para mim, chega de holocaustos de carneiros e da gordura de novilhos gordos; não tenho nenhum prazer no sangue de novilhos, de cordeiros e de bodes!

Quando lhes pediu que viessem à minha presença, quem lhes pediu que pusessem os pés em meus átrios?

Parem de trazer ofertas inúteis! O incenso de vocês é repugnante para mim. Luas novas, sábados e reuniões! Não consigo suportar suas assembleias cheias de iniquidade.

Suas festas da lua nova e suas festas fixas, eu as odeio. Tornaram-se um fardo para mim; não as suporto mais!

(Isaías 1:11-14 — NVI)

Em Malaquias lemos: “O filho honra seu pai, e o servo o seu senhor. Se eu sou pai, onde está a honra que me é devida? Se eu sou senhor, onde está o temor que me devem?”, pergunta o Senhor dos Exércitos a vocês, sacerdotes. “São vocês que desprezam o meu nome! Mas vocês perguntam: ‘De que maneira temos desprezado o teu nome?’” (Malaquias 1:6 — NVI)

O que ocorreu com Israel não é diferente do que ocorre com as igrejas hoje, sem generalizar, é claro. Será que em certas reuniões cúlticas o nome do Senhor não está sendo profanado nos sermões, música, danças, “artes”, vestimentas, comportamentos, palavreado, sentimentos e valores praticados? Estes cultos não afrontam a Deus? A profanação não acorre apenas quando lésbicas entram num templo e trocam beijos, ou quando um transexual aparece numa cruz numa parada LGBT, nem quando militantes introduzem crucifixos em seus ânus durante manifestações, mas também quando aqueles que, declarando Cristo como Senhor, ofendem sua dignidade, seja na vida privada ou durante seus ajuntamentos.

A teologia da prosperidade, a teologia inclusiva, os sermões de autoajuda, as heresias, os louvores antropocêntricos e triunfalistas, as crendices, a idolatria gospel, a vida dúbia dos crentes, a desonra dos corpos etc., é profanação. Todo desvio da verdade e dos valores bíblicos é profanação. Podemos também dizer que tanto o ativismo quanto o nominalismo religioso é profanação, uma vez que estes comportamentos não glorificam a Deus.

Entre os Dez Mandamentos temos este: “Não tomarás em vão o nome do Senhor teu Deus, pois o Senhor não deixará impune quem tomar o seu nome em vão” (Êxodo 20:7 — NVI). Declarar-se cristão e não viver como tal, é também uma forma de tomar o nome de Deus em vão, e isso é profanação.

Uma outra palavra, usada em Hebreus 12:6 também merece atenção: “que não se abrigue entre vós nenhum imoral ou profano, como Esaú, o qual por uma refeição desejada, vendeu todos os seus direitos de herança como filho mais velho” (Hebreus 12:16 — BKJA). Aqui a palavra para “profano” é bebelos (βέβηλος) cujo sentido é, “literalmente, passando por um limite sem a devida autorização”.7 Esaú, por causa de seu apetite carnal, cruzou uma linha que não deveria, trocando sua primogenitura por uma refeição. Embora a palavra usada em 2 Timóteo 3:2 seja anósioi (ἀνόσιοι), ambas trazem a ideia de carnalidade. Sempre que alguém prefere algo carnal ao espiritual, está agindo como um profano.

Abaixo temos um outro texto que nos apresenta um comportamento profano.

Tendo Jesus entrado no pátio do templo, expulsou todos os que ali estavam comprando e vendendo; também tombou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos comerciantes de pombas. E repreendeu-os: “Está escrito: ‘A minha casa será chamada casa de oração’; vós, ao contrário, estais fazendo dela um ‘covil de salteadores’”.

(Mateus 21:12,13 — BKJA)

Guardadas as diferenças de contexto, “Covil de salteadores” parece representar muito bem o que certas igrejas de nosso tempo têm se transformado: empreendimentos humanos rentáveis, por meio dos quais falsos líderes, alegando autoridade espiritual, se enriquecem às custas da “boa fé” de incautos.

A Palavra de Deus traz uma séria advertência aos profanos: “Quão mais severo castigo, julgam vocês, merece aquele que pisou aos pés o Filho de Deus, que profanou o sangue da aliança pelo qual ele foi santificado, e insultou o Espírito da graça?” (Hebreus 10:29 — NVI).

Creio que podemos encerrar com esta outra advertência: “Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá” (Gálatas 6:7 — NVI).


1 Com informações de https://biblehub.com/greek/462.htm (acessado em 05 de agosto de 2019).

2 Champlin, Russell Norman, Ph. D., Comentário Bíblico, Volume 5, páginas 386 e 387, Hagnos, 2001

3 Lopes, Dias Hernandes. 2 Timóteo, o Testamento de Paulo à Igreja, página 87, Hagnos, São Paulo, 2014.

4 Barclay, William. The Second Letter to Timothy, tradução de Carlos Biagini

5 https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/profanar/ (acessado em 05 de agosto de 2019)

6 https://escoladominical.assembleia.org.br/licao-7-fogo-estranho-diante-de-deus-2/ (Acessado em 08 de agosto de 2019)

7 https://biblehub.com/str/greek/953.htm (acessado em 06 de agosto de 2019)

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