Em meio a uma sociedade decadente, já intitulada por alguns como “sociedade pós -cristã”, restaurar valores cristãos em família é um desafio necessário e inadiável. Família abençoada, e que Deus usa para abençoar outras famílias, é aquela que se orienta pelos ensinos e princípios bíblicos.
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"Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar? E achando-a, convoca as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida." (Lucas 15:8,9)
Pr. Cleber Montes Moreira
Vivemos num mundo em constante transformação, o que não significa, necessariamente, do ponto de vista bíblico, alguma evolução. Muitas vezes os avanços trazem consequências drásticas e prejuízos incalculáveis. O progresso, sobretudo o tecnológico, deu ao ser humano a sensação de independência de Deus, o que desencadeia a soberba, a autoconfiança, o individualismo, a materialização e falência de valores em nossa sociedade. Este modo de viver é bem entendido à luz de Romanos 1:22, que diz: “Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos”.
Sendo seu próprio deus, por priorizar o que lhe dá prazer em detrimento dos princípios encontrados nas Sagradas Escrituras, o ser humano passou a criar valores próprios e estabeleceu uma nova ética. Assim o hedonismo passou a ser característica principal e norteador do comportamento humano. Na busca pelo prazer como bem supremo vale qualquer coisa: é isso que dita as regras. Os valores cristãos, como a própria Bíblia, hoje são considerados como arcaicos.
A humanidade pode atingir o solo da Lua, explorar Marte, fabricar chuvas, transformar espécies geneticamente, bem como criar seu próprio sistema ético-moral. “Não dependemos mais de Deus”, dizem. “Mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador…” e em decorrência disso “Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si”, e “os abandonou às paixões infames” (Romanos 1:24,25-26). Como no tempo do apóstolo Paulo, esta é também uma “geração corrompida e perversa” (Filipenses 1:15), que foi entregue às consequências de seus atos, pois “tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gálatas 6:7). A degradação é tal que podemos fazer aquela mesma pergunta que Jesus fez em Lucas 18:8: “Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?” Entendo que os sofrimentos, decepções, pavores e todo o mal que assola a humanidade é fruto do pecado e conseguinte afastamento do Criador: “Esconderei o meu rosto deles, verei qual será o seu fim; porque são geração perversa, filhos em quem não há lealdade” (Deuteronômio 32:20).
A tragédia da vida sem Deus se dá tanto individual quanto coletivamente. A sociedade vem sofrendo as consequências de uma decadência quase generalizada, o que faz lembrar a civilização pré-diluviana: “Comiam, bebiam, casavam, e davam-se em casamento…”, vivendo dissolutamente como se não tivessem que prestar contas a Deus. Mas, o resultado foi este: “até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio, e os consumiu a todos” (Lucas 17.27) ― Deus é longânimo, porém é justo, ele “é tardio em irar-se, mas grande em poder, e ao culpado não tem por inocente…” (Naum 1:3).
A família de Noé foi desafiada a iniciar uma nova colonização da Terra, pois era a única que ainda preservava os valores morais, éticos e espirituais revelados por Deus. Igualmente as famílias cristãs têm a missão de como Sal da Terra ‘saturar’ o mundo com tais valores, e como Luz do mundo fazer ver aqueles que, pela ação do deus deste século, estão cegos em seu entendimento, para que lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo (2 Coríntios 4:4), a fim de resgatarem valores perdidos. No entanto, necessitam agir primeiramente no seu próprio contexto, uma vez que o ‘secularismo’, ou ‘mundanismo’ as tem afetado drasticamente.
Estamos diante de um contexto adverso, que exige cuidados para com as famílias, quando precisamos buscar o que foi perdido para que estejamos em condições de cumprirmos a missão de Deus. É para isso que ainda estamos aqui, para realizarmos Seus propósitos! Para que nossas famílias sejam abençoadas e sejam bênção para outras famílias, precisamos, com urgência e diligência, encaramos o desafio de restaurar os valores cristãos em nossos lares.
Entendendo o termo:
Entendamos o significado do termo usado no título deste estudo: ‘restaurar’ significa reparar, recuperar, consertar, pôr em bom estado, restabelecer (…). Assim sendo, o desafio proposto aqui é recuperar, consertar, restabelecer, reaver os valores cristãos no seio das famílias.
Observemos, atentamente, o texto em epígrafe: “Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma, não acende a candeia, varre a casa e a procura diligentemente até encontrá-la? E, tendo-a achado, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque achei a dracma que eu tinha perdido” (Lucas 15:8,9 ― grifos do autor).
O perigo do descuido:
Jesus fala de algo que foi perdido dentro de casa, não na rua ou em outro lugar. Atualmente muitos valores têm sido perdidos dentro dos lares, tais como amor, respeito, carinho, compreensão, dedicação, comunhão, paz, boa administração do tempo, diálogo, cultivo da vida devocional, meditação na Palavra de Deus, oração em família, gestão dos recursos etc. Tais valores se perdem facilmente quando se deixa de ter a devida atenção.
Provavelmente aquela mulher perdeu sua moeda num momento de distração ou descuido. Ela a deixou cair, ou simplesmente rolou de onde estava colocada. Não sabemos exatamente como se deu a perda. Valores tão importantes também se perdem por falta de atenção e até mesmo negligência. Quando membros da família não vigiam acontecem grandes prejuízos: brigas, infidelidade, imoralidades, divórcios, abalos emocionais, rebeldia, filhos nas drogas… a lista parece não ter fim!
Hoje nos distraímos facilmente com coisas que achamos incapazes de interferir na vida familiar: trabalho demasiado que subtrai o tempo; a TV assumindo papel preponderante na (de)formação do caráter e valores; absorção de conceitos seculares por se acreditar que “isso não tem nada a ver”; comportamento “politicamente correto” ao contrário do biblicamente certo, consumismo desenfreado que tira o foco do que é mais importante…
A Candeia e a Vassoura:
A candeia era uma lâmpada formada por um recipiente de barro ou de folha, munida de um bico pelo qual passa a extremidade de um pavio, que se enche com óleo para queimar. Talvez a figura mais próxima de nós seja a lamparina de querosene, ainda usada em lugares onde não há eletricidade. A candeia era a ‘lâmpada’ usada na época de Jesus.
A candeia, por emitir luz, metaforicamente representa a Palavra de Deus, que é a Luz da vida. A falta dessa Luz cria condições para o erro, pois Jesus mesmo disse “Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus” (Mateus 22:29), e aquele que “andar de noite, tropeça, porque nele não há luz” (João 11:10).
Para reaver o que havia perdido a mulher teve que acender a luz, sem a qual ficaria praticamente impossível a busca. A Palavra (revelação) de Deus, personificada em Jesus ― “Eu sou a luz do mundo” (João 5:12) ― é indispensável como norte para a vida. São os ensinos do Senhor que dão luz para os que buscam encontrar a Verdade. Quem segue Sua doutrina “não tropeça, porque vê a luz deste mundo” (João 11:9). É Sua Palavra que revela o padrão ideal para a família cristã. Se em seu lar os valores bíblicos estão perdidos, somente com a Luz de Jesus poderão ser restaurados. Portanto, acenda a candeia!
Usando a vassoura:
Sou levado a pensar que aquela casa estava suja, e as sujeiras ocultavam a moeda, sendo necessário, para encontrá-la, varrer e vasculhar cada canto cuidadosamente. Não sabemos como a sujeira penetrou naquele lugar, mas, normalmente, entra pelas janelas, portas e frestas sem ser convidada. Se acumula nos cantos, em baixo dos móveis e tapetes, e se espalha por toda a casa. Em termos espirituais a contaminação entra por meio dos olhos, ouvidos, sentimentos, por janelas e portas da mente e do coração; pela TV e outras mídias, por influências maléficas de pessoas sem o temor de Deus com as quais convivemos etc. Esta sujeira se acumula e encobre valores que vão se perdendo aos poucos. Sempre digo que o diabo impõe seus (des)valores gradativamente, sorrateiramente, de modo muito sutil. Também neste caso devemos atentar para o que escreveu Paulo: “Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo” (Colossenses 2:8).
Procedendo a limpeza e a busca:
Depois da Luz de Deus sobre o entendimento (a candeia está acesa), percebe-se a necessidade da limpeza. Por onde começar?
Varra da sua mente o conceito de que “isso não tem nada a ver”, pois ele é a porta principal de entrada de tudo aquilo que não presta e atrapalha a sua vida. Esta frase representa a filosofia de vida de quem não quer compromisso com Deus e se dispõe a aceitar o domínio do pecado em sua vida;
Varra de sua mente todos os conceitos contrários à Palavra de Deus. Este é um tempo em que a sociedade transforma o bem em mal e o mal em bem, o certo em errado e o errado em certo, a justiça em injustiça e a injustiça em justiça… (Isaías 5:20). Os conceitos da “nova moralidade” conflitam com os ensinos das Escrituras e não podem ser tolerados por quem quer seguir a Cristo. Portanto, se há em sua mente algum pensamento, alguma crença, filosofia ou ‘achismo’ que conflita com os valores do evangelho, deve ser urgentemente varrido! Esta é uma faxina que não pode esperar!
Varra de seu coração todo e qualquer sentimento e/ou comportamento contrário aos princípios cristãos explícitos nas Sagradas Escrituras. Alguns sentimentos e comportamentos destrutivos comuns são o ódio, a inveja e a cobiça, mas existem outros que também devem ser erradicados, tais como amor-próprio excessivo, paixões ilícitas, o olhar interesseiro para o jardim do vizinho, a infidelidade etc.
Varra de sua vida a simpatia por coisas pecaminosas. Não basta apenas não praticar, é preciso não ter prazer nas coisas erradas, tais como cenas de novelas ou outros programas de TV que corrompem valores, em leituras impróprias, sites inadequados, ou mesmo em encobrir um erro de alguém ainda que por “amor” ou amizade etc.
Um mal hábito que tenho é o de guardar papéis que acho que podem servir no futuro, mas que ficam lá nas gavetas e prateleiras por anos, até que percebo sua inutilidade e, então, faço de vez em quando, uma faxina. Jogo fora cartas, jornais, revistas, folhas impressas e coisas que na verdade só ocuparam espaço e não têm serventia.
Quando criança comecei uma coleção de tampinhas de garrafas de refrigerante. Elas eram variadas: tampinhas de Coca-cola com desenhos da Disney, de Mineirinho com desenhos de animais, entre outras. A coleção crescia mais e mais, de forma que já não havia como guardar tudo. Aquilo não servia absolutamente para nada, mas um sentimento inexplicável me impedia de jogá-las fora. Demorei bastante e foi muito difícil me livrar daquele “lixo”, porém, quando o fiz, fiquei aliviado.
Pessoas há que conservam certas coisas por um apego sentimental que contraria a razão. No bairro onde moro uma pessoa conservava, até há pouco tempo, uma brasília velha, verde, com insulfilme e um som possante. O carro devia gerar gastos desnecessários, a lataria sempre era remendada, não tinha valor comercial, mas era cuidado com muito sentimento: um lixo que custava caro pra manter!
Tem gente que sabe que certas telenovelas trazem muitos malefícios, principalmente porque são instrumentos de desconstrução de valores, mas não conseguem abandonar o vício; muitas vezes toma partido por uma esposa, ou esposo em seu adultério, ou por um caso homossexual, ou por um bandido com cara de mocinho etc. Muitos se emocionam com cenas e histórias que conflitam com os valores cristãos. Há até quem aprecie cenas de pornografia explícita. Outros conservam palavreado “mundano”, outros vícios como “beber socialmente”; eu mesmo pastoreei uma igreja na qual havia um membro que fumava escondido, e conheço gente que bebe em oculto.
Pessoas há que insistem em conservar “pecadinhos” de estimação. Também há gente apática e omissa diante de realidades que normalmente causariam indignação ao crente. Quem tem simpatia pelo pecado está pecando. Pecado não se tolera, se erradica!
Conservar algum hábito pecaminoso por “capricho” é como conservar aquela brasília verde: pecados de estimação têm custo elevado, desproporcional ao prazer (momentâneo) que produz, e, invariavelmente, leva à ruína.
Depois de fazer sua ‘higiene pessoal’, ou seja, de se desfazer de todo o lixo, conscientize os demais membros de sua família para fazerem o mesmo. Assim sua casa (lar), com a cooperação de cada membro, ficará limpa!
Seja diligente:
Ser diligente é ser zeloso, cuidadoso, dedicado, criterioso naquilo que faz. A mulher sabia que para encontrar sua dracma precisava ser diligente. Muitas vezes não encontramos algo por não procurarmos direito. Assim também devemos agir no esforço de resgatarmos os valores do evangelho em nossos lares. Se formos relapsos em nossa relação com Deus, no cultivo de hábitos sadios, na vigilância, na devoção, na santidade (…), não obteremos sucesso. Quantas vezes fazemos com deszelo o que deveríamos fazer com dedicação?! Quantas vezes deixamos para amanhã aquilo é urgente?! Enquanto postergamos certas atitudes, a poeira vai se acumulando. A negligência sempre causa prejuízos, alguns incalculáveis!
Seja perseverante:
“Até encontrá-la” descreve a busca incansável daquela mulher, a sua determinação e perseverança. Muitas vezes queremos atingir alvos sem muito labor, sem muita oração, sem muito empenho… É comum a expectativa por resultados fáceis e imediatos, numa sociedade onde as mudanças acontecem rapidamente. No entanto, transformações profundas demandam muito esforço. De vez em quando ouço testemunhos do tipo “orei trinta anos pela conversão de meu esposo, mas valeu a pena: hoje ele está salvo”.
A perseverança é ensinada por Jesus. Foi Ele quem disse “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque, aquele que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, abrir-se-lhe-á” (Mateus 7:7,8), e também ensinou uma parábola “sobre o dever de orar sempre, e nunca desfalecer” (Lucas 18:1).
Vejo que as famílias necessitam de transformações profundas e urgentes, mas que não acontecerão sem perseverança. Se não nos dedicarmos mais à oração, à busca da santidade de vida, ao conhecimento de Deus e Sua vontade, ao bem-estar dos nossos, e se não lutarmos em favor de nossas famílias não chegaremos a lugar algum. Pergunto:
- O que a esposa crente será capaz de fazer para ganhar seu esposo incrédulo?
- O que pais crentes serão capazes de fazer para ganhar seus filhos para Cristo?
- O que você será capaz de fazer para proteger sua família da ação do diabo?
- O que você será capaz de fazer para cultivar a comunhão no lar?
- O que você será capaz de fazer para resgatar valores cristãos no seio de sua família?
- Para tudo o que necessita sua família, até onde você é capaz de ir ou o que você é capaz de fazer?
O que necessita ser resgatado em sua família?
O texto fala de algo que foi perdido e encontrado depois. Creio que cada família deva responder à pergunta após avaliação de sua própria realidade, mas, em geral, pode ser:
- Sentimentos e atitudes como amor, respeito, perdão, demonstração de afeto (…);
- Interesse sincero pelos outros;
- Atitudes positivas em relação aos demais membros da família;
- Diálogo;
- Silêncio;
- Palavreado sadio;
- Mutualidade;
- Unidade;
- Vida devocional (leitura bíblica, reflexão, oração);
- Valores éticos e morais;
- E outros.
Desfrutando alegrias:
Os valores do evangelho quando vivenciados produzem alegrias. Eles são a vontade de Deus para nossas vidas.
O resgate dos valores cristãos impactará cada membro da família. Quão bom é dizer “eu e minha casa serviremos ao Senhor” (Josué 24:15). Os salmos 127 e 128 retratam o resultado de observar os ensinos divinos na vida familiar. O marido cristão traz alegria à sua esposa, assim como a esposa cristã traz alegria ao seu marido. Pais cristãos contribuem para o sucesso e felicidade de seus filhos. Filhos cristãos, praticantes dos valores bíblicos, dão alegria aos pais.
Reflita:
O rei Josias teve papel importante na restauração do culto a Deus no Antigo Testamento. Durante a reforma do templo fora encontrado um livro, talvez o pentateuco, ou precisamente o livro de Deuteronômio (2 Reis 22:8). O livro, que estava perdido no templo, foi levado e lido na presença do rei. Após ouvir atentamente a sua leitura, Josias conclui que Israel estava em rebelião contra Deus, pois “nossos pais não deram ouvidos às palavras deste livro” (2 Reis 22:13) ― disse ele. Assim, além de comandar uma reforma no templo, o rei iniciou uma reforma espiritual que culminou no avivamento de Israel, e resgatou valores antes esquecidos. O culto a Deus foi restaurado!
Creio que assim como Deus usou Josias para restaurar o culto em Israel, poderá usar você para iniciar um avivamento espiritual em sua família, que resulte no resgate dos valores cristãos em seu lar. Isso depende da oração e da observância da Palavra de Deus, sempre na dependência do Espírito Santo. Talvez a Palavra esquecida numa gaveta, pedida em algum lugar, ou até desprezada… Sua família não poderá viver um intenso relacionamento com Deus sem que Sua Palavra seja lida, amada e vivida. Só por meio dela que valores cristão podem ser restaurados, tanto individual quanto coletivamente. Pense nisso!
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