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Pr. Cleber Montes Moreira
1 Finalmente, irmãos, vos rogamos e exortamos no Senhor Jesus,
que assim como recebestes de nós, de que maneira convém andar e
agradar a Deus, assim andai, para que possais progredir cada vez
mais.
2 Porque vós bem sabeis que mandamentos vos temos dado pelo
Senhor Jesus.
3 Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação; que
vos abstenhais da fornicação;
4 Que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e
honra;
5 Não na paixão da concupiscência, como os gentios, que não
conhecem a Deus.
6 Ninguém oprima ou engane a seu irmão em negócio algum, porque
o Senhor é vingador de todas estas coisas, como também antes vo-lo
dissemos e testificamos.
7 Porque não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a
santificação.
8 Portanto, quem despreza isto não despreza ao homem, mas sim a
Deus, que nos deu também o seu Espírito Santo.
9 Quanto, porém, ao amor fraternal, não necessitais de que vos
escreva, visto que vós mesmos estais instruídos por Deus que vos
ameis uns aos outros;
10 Porque também já assim o fazeis para com todos os irmãos que
estão por toda a macedônia. Exortamo-vos, porém, a que ainda nisto
aumenteis cada vez mais.
11 E procureis viver quietos, e tratar dos vossos próprios
negócios, e trabalhar com vossas próprias mãos, como já vo-lo
temos mandado;
12 Para que andeis honestamente para com os que estão de fora, e
não necessiteis de coisa alguma.
(1 Tessalonicenses 4:1-12)
Tanto na época de Paulo quanto hoje é difícil
inculcar nas mentes dos crentes a ideia de santidade. No texto o
apóstolo aconselha pessoas que abraçaram a fé cristã há pouco
tempo e, portanto, ainda estavam acostumados com o estilo de vida
daquela sociedade, decadente, onde principalmente a imoralidade
sexual era prática comum.
William Barclay nos lembra do que escreveu
Demóstenes, o que retrata bem o estilo imoral dos gregos: “Temos
prostitutas para o prazer, concubinas para as necessidades diárias
do corpo, esposa para procriar filhos e para o cuidado fiel de nossas
casas”. Barclay complementa: “Enquanto
o homem mantivesse a sua mulher e a sua família, não havia motivo
de vergonha nas relações extraconjugais.”
Também a nossa sociedade está adoecida: os
pecados sexuais, a banalização da vida, o mercantilismo religioso,
abuso de poder, a corrupção generalizada, e tudo o que carateriza o
processo de degradação social faz parte do cotidiano desta geração
afastada de Deus, e até mesmo de grande parte dos que se declaram
evangélicos. Há ‘igrejas’ tão influenciadas pela
sociedade, há denominações inteiras tão corrompidas, que já não
se percebe qualquer diferença entre o que chamamos “mundo” e o
que chamamos “igreja”. Uma prova disso são as postagens de
certos crentes nas redes sociais: No domingo fotos na igreja,
louvando, no sábado selfies em festas e lugares onde um
cristão jamais deveria estar. Há evangélicos defendendo o aborto,
a união homoafetiva, Ideologia de Gênero, a poliafetividade
etc. O meio artístico gospel então é uma sucessão de escândalos.
Assim é que ser evangélico já não significa viver conforme o
evangelho, e aqueles dos quais se espera que influenciem o mundo
estão amoldados aos valores seculares.
Se Paulo tivesse uma mensagem para os crentes de
hoje, que mensagem seria? Mas ele tem, e esta mensagem é a mesma que
escreveu aos Tessalonicenses sobre “de
que maneira convém andar e agradar a Deus” e
progredir na caminhada com Ele.
“Andar” é referência à maneira de viver. O
andar cristão é um modo de vida, mas é também um itinerário que
tem por propósito cruzar uma “linha de chegada”. A forma como
andamos indica para onde caminhamos. Assim é que o mundo caminha
para a perdição, mas os salvos para o alvo perfeito, para o
encontro e a glorificação com Cristo.
Vejamos o que Paulo fala sobre o andar do salvo, e
apliquemos seus ensinos ao nosso viver.
O andar do salvo é…
1. Andar conforme os ensinamentos recebidos: (vs. 1,2)
A chegada de Paulo e Silas a Tessalônica está
registrada em Atos 17:1-9. Lá eles foram à sinagoga dos judeus,
debateram sobre as Escrituras por três sábados,
“expondo e demonstrando que convinha que o Cristo padecesse e
ressuscitasse dentre os mortos”, anunciando
Jesus como o Cristo de Deus (Atos 17:3). O resultado foi que
“alguns deles creram, e
ajuntaram-se com Paulo e Silas; e também uma grande multidão de
gregos religiosos, e não poucas mulheres principais” (Atos 17:4).
Aqui temos, então, o início da igreja naquela cidade. Depois disso
os evangelistas foram perseguidos e enviados pelos irmãos de noite
para Bereia (Atos 17:10). Não sabemos como com detalhes como aqueles
irmãos continuaram recebendo cuidados espirituais, mas é certo que
os ensinos recebidos contribuíram para que se tornassem um padrão
para “todos os fiéis
na Macedônia e Acaia” (1:7). No capítulo
primeiro Paulo elogia as virtudes daquela igreja, e lembra que
aqueles crentes foram “feitos
nossos imitadores, e do Senhor, recebendo a palavra em muita
tribulação” (1:6). As
instruções recebidas eram suficientes para que o apóstolo lhes
cobrasse um andar seguro e fiel em Cristo. Neste capítulo 4 o
escritor salienta:
(1) “Assim como recebestes de nós” –
Paulo lembra àqueles crentes que eles foram instruídos na Palavra
sobre o modo como deveriam andar. Eles não estavam desavisados, não
estavam sem orientação e, portanto, não tinham desculpas.
(2) Os ensinos recebidos tinham como propósito
nortear suas vidas. Num mundo de tanta confusão, nossa referência
segura é sempre a Palavra de Deus.
(3) Estes ensinos também propositavam o progresso
espiritual daqueles irmãos. Da mesma forma crescemos quando lemos,
refletimos, acatamos e aplicamos a Palavra ao nosso viver.
Nosso andar é diferente do andar do mundo. Nós
andamos para frente, para um propósito, e de um modo digno do
Senhor.
Você pode dizer que é difícil andar como um
cristão autêntico neste mundo de tantas seduções. O Pr. Marcos
Graconato num de seus artigos indagou: “Dá pra Ser Crente em
Tessalônica?”1
Este desafio é também para nós, uma vez também estamos inseridos
numa sociedade doente e decadente. A advertência feita está
alinhada ao que o apóstolo escreveu aos Filipenses: “Para
que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis,
no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual
resplandeceis como astros no mundo” (Filipenses 2:15).
Isso só é possível observando os ensinos bíblicos recebidos, e
“vós bem sabeis que
mandamentos vos temos dado pelo Senhor Jesus” (v. 2).
2. Andar em santificação: (vs. 1-8)
A palavra grega “agiasmos”, traduzida por
santificação significa “consagração”, “separação”,
“santificação”, e refere-se ao processo que se inicia no
momento da conversão, prossegue por toda a vida do crente, e atinge
seu ápice na glorificação. A santificação realiza uma
transformação moral no crente por meio do entendimento e da
obediência às Escrituras, e imprime no salvo a santidade do próprio
Deus. Quanto mais experimenta a santificação, mais o crente se
afasta do padrão de vida secular e evolui segundo o padrão divino.
Segundo Russell Norman Champlin, “a
santificação inclui a participação positiva nas virtudes morais
de Deus”.2
Isso significa não apenas abandonar certos hábitos e desprezar o
pecado, mas apresentar a Deus um serviço digno do caráter cristão.
Ao falar sobre a
santificação, Paulo poderia ter feito uma lista de atitudes
pecaminosas que deveriam ser abandonadas, porém, considerando que a
fornicação não era considerado um pecado entre os pagãos, talvez
por isso tenha combatido esta prática com maior vigor.3
A palavra usada para “fornicação” na ACF e traduzida por
“imoralidade sexual” na NVI é pornéia,
e indica qualquer prática sexual pecaminosa.
Embora muitos estudiosos entendam que o verso 6
seja uma orientação à fidelidade nos negócios em geral,
principalmente nas atividades comerciais, coisa que realmente se deve
observar, o contexto parece indicar uma advertência aos abusos
sexuais como, por exemplo, o de algum irmão seduzir a esposa do
outro. Por isso este verso não é uma mudança de assunto, mas
continuação do tema em questão, tanto que na NVI se inicia assim:
“Neste assunto”, ou
seja, impureza sexual, “ninguém
prejudique a seu irmão nem dele se aproveite”. O
verso 7 corrobora isso: “Porque
Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade.” Assim
é inadmissível que as práticas sexuais pecaminosas daquela
sociedade fossem aceitas como naturais entre os irmãos, que houvesse
entre eles quem cometesse adultério com a esposa do outro.
Tanto o adultério, como qualquer outra prática
sexual ilícita, ainda que comum em nossa sociedade, não deve ter
lugar na vida dos santos. Aquele que confessa a Cristo como Senhor
não deve viver segundo o padrão moral vigente na sociedade, mas
segundo os valores do reino eterno, porque isso seria um
contrassenso.
3. Andar em amor: (vs. 9,10)
A palavra usada para “amor fraternal”
(philadelphia) indica o amor entre irmãos por nascimento. A igreja é
uma família, onde todos, nascidos de Deus, por serem irmãos devem
viver em amor. Em “instruídos
por Deus que vos ameis uns aos outros” a palavra usada é
ágape, e indica um amor proveniente de Deus, amor
sublime, amor desinteressado, amor que se doa, amor incondicional,
amor altruísta…
Paulo considera que não há necessidade de
escrever mais sobre o assunto, visto que aqueles irmãos já estavam
instruídos sobre o dever de amar uns aos outros, mas os encoraja
para que cresçam nisso.
Crescer na prática do amor faz parte do andar do
salvo. Não se trata de um amor comum, de um amor egoísta,
hedonista, mas de um amor que busca o bem do próximo. Quem ama
respeita, é fiel, não defrauda, não abusa, não peca contra o
próximo. Creio que nós também já estamos instruídos neste
assunto e que não há muito o que falar, a não ser que precisamos
evoluir continuamente nesta ação. Se este amor for uma
característica dos irmãos, certamente será um testemunho poderoso
para os que estão de fora. Jesus mesmo disse:
“Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês
se amarem uns aos outros” (João 13:35). Que sejamos
conhecidos por nossa integridade, e também pelo amor com o qual
amamos uns aos outros.
4. Andar honestamente: (vs. 11,12)
Aqueles que receberam os ensinamentos sobre como
“convém andar e agradar a Deus”,
devem viver conforme estas instruções. Quem vive assim, busca a
santificação, cresce em amor. Aquele que ama não se aventurará em
práticas sexuais ilícitas, uma vez que elas fazem mal não apenas a
si, mas também a outros envolvidos, e à comunhão da igreja. Aquele
que ama também será honesto em seus negócios, não será uma carga
para os outros, e procurará viver em paz, evitando atritos e
contendas. Este “andar honestamente” deve ser buscado com
diligência.
Não sabemos exatamente o que levou Paulo a fazer
tal advertência, mas vários estudiosos suspeitam que pela
expectativa da volta iminente de Cristo, muitos abandonaram o
trabalho regular e passaram a viver ociosos, se intrometendo em
assuntos alheios e sendo pesados aos irmãos (Leia 2 Tessalonicenses
3:11,12). Por isso que teria dito para viverem quietos, tratarem dos
seus próprios negócios e a trabalharem para o seu sustento (v. 11),
coisa que Paulo ensinou não só com palavras, mas com o exemplo (2
Tessalonicenses 3:8). Como se diz, “o trabalho dignifica o homem”,
mas também evita que o ocioso se torne um instrumento do diabo.
Dizem que “quem não tem o que fazer, inventa”, e que “quem não
trabalha dá trabalho”.
Sobre a expectativa da volta do Senhor, a melhor
coisa a pensarmos é que Ele deverá nos encontrar andando conforme a
Sua vontade, vivendo em amor, em comunhão e em paz com os irmãos,
trabalhando e andando honestamente (Mateus 24:46; Romanos 13:13).
Este proceder será um belo testemunho para os de fora.
Resumindo:
O andar do salvo é…
– Andar conforme os ensinamentos recebidos: (vs.
1,2)
– Andar em santificação: (vs. 1-8)
– Andar em amor: (vs. 9,10)
– Andar honestamente: (vs. 11,12)
Assim devemos andar e progredir na vida cristã,
visando o alvo final de Deus para nós, que é sermos segundo a
estatura do homem perfeito, JESUS CRISTO: “Até
que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de
Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo”
(Efésios 4:13). Este andar virtuoso, produtivo, fará bem
para nós e para a igreja, bem como se constituirá num persuasivo
testemunho para os de fora.
_________________
2 Champlin,
Russell Norman. Comentário Bíblico Volume 5, 2ª edição, Hagnos,
2001.
3 https://www.apologeta.com.br/1-tessalonicenses-4/
(acessado em 24 de abril de 2019)
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