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A Trajetória da Igreja

“Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar, até ao dia em que foi recebido em cima, depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera; aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias, e falando das coisas concernentes ao reino de Deus.” (Atos 1:1-3)

trajetória
Imagem: Pixabay


Texto Bíblico: Atos 1:1-11


Pr. Cleber Montes Moreira


Entendamos por “trajetória da igreja” o caminho que ela tem de percorrer na história, desde o seu surgimento até a sua glorificação com Cristo. Há uma linha de partida e uma linha de chegada. Os registros bíblicos são apenas parte de uma história emocionante que continua sendo escrita através dos séculos, e cujo fim ainda não sabemos quando se dará, uma vez que não nos foi revelado o momento do encontro entre a “noiva” e o “noivo” (Mateus 24:36), embora os sinais daquele grande dia se evidenciem cada vez mais.

Os registros de Atos são importantes por sua autoridade história, para a teologia da igreja, e como garantia de que Deus está atuando através dos séculos, conduzindo todas as coisas para o fim que Ele mesmo planejou.

Apesar de todas as aflições que os fiéis do início da era cristã tiveram de suportar, bem como todo o sofrimento causado aos cristãos de todos os tempos — zombarias, opressões, perseguições e mesmo a morte — a trajetória da Igreja é de sucesso e não de fracasso. A declaração do Senhor de que “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16:18) não apenas lhe confere autoridade, mas lhe assegura de que Ele a governa, sustenta e a faz triunfar sobre todas as forças que tentam impedi-la, e mesmo bani-la da Terra: o seu futuro está guardado em Cristo. Nenhuma outra instituição teria resistido às mesmas provas pelas quais a Igreja tem passado ao longo dos séculos. Por isso a história é prova inconteste de que a Igreja é de Cristo, e não uma invenção humana.

Devemos aceitar “Atos dos Apóstolos” como a parte inicial da história que está sendo registrada nos anais divinos. O autor nos mostra o fundamento sobre o qual a igreja é edificada, se desenvolve, cresce e se espalha pelo mundo, a convicção que a faz prosseguir, quem a sustenta e orienta, bem como esperança que a motiva.

1. A trajetória da igreja se inicia e se orienta a partir de “tudo o que Jesus começou a fazer e a ensinar” (vs. 1,2)

Segundo a tradição cristã do segundo século, tanto o livro de Atos como o terceiro Evangelho foram escritos por um companheiro de viagem de Paulo, identificado em Colossenses 4:14 como “Lucas, o médico amado”, e citado entre os companheiros de trabalho do apóstolo (Colossenses 4:10-17; ver também 2 Timóteo 4:11; Filemom 1,24). “Meu livro anterior”, o evangelho de Lucas, registra o ministério de Jesus desde o seu nascimento até sua ascensão. Aquele que narrou com fidelidade o que “Jesus começou a fazer e a ensinar” agora registra os primeiros passos da igreja.

Os discípulos foram ensinados e treinados por Jesus. A igreja permanecia na “doutrina dos apóstolos” (Atos 2:42), ou seja, naquilo que eles receberam do Senhor e transmitiram aos outros crentes. Por isso ela é edificada, e trilha a história a partir de “tudo o que Jesus começou a fazer e a ensinar”, de modo que sua trajetória não é orientada por doutrinas humanas, teologias que desprezam a Bíblia, ou qualquer outra fonte posta como autoritativa, mas exclusivamente pelos ensinos de Cristo.

2. A igreja prossegue em sua trajetória pela convicção de que Cristo está vivo (v. 3; 24:1-53)

O escritor encerra sua narrativa anterior com registros de aparições do Cristo ressurreto (Lucas 24:1-53), e inicia Atos afirmando que o Senhor se apresentou vivo “com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando das coisas relacionadas com o Reino de Deus,” ou seja, de modo indubitável. Paulo, escrevendo aos Coríntios, exortando-os a permanecerem firmes no evangelho que lhes foi pregado, lhes fala sobre algumas das manifestações do Senhor (leia 1 Coríntios 15:1-8). A fé no Cristo vivo motiva a igreja: ela existe e se move por esta convicção.

3. A trajetória da igreja é orientada Espírito Santo (vs. 4,5,8)

Existem muitos métodos de gestão e estratégias adotados pelas igrejas de hoje. “Igrejas orientadas” por isso ou aquilo, “igreja” isso ou aquilo, e vários nomes e conceitos orientadores que têm por propósito a administração eficaz, o crescimento e a qualidade das igrejas. Há muitas igrejas dirigidas segundo sabedoria humana em desprezo da ação norteadora do Espírito Santo. Não é incomum que, logo após um processo de sucessão pastoral, pastores com uma “nova visão” trabalhem para desconstruir o ‘modelo’ anterior para implementar aquele que acha correto, como se a igreja fosse um “laboratório de experimentos”. Se este comportamento se verificasse no princípio, certamente que o Livro de Atos não existiria, ou se existisse, seria um livro histórico, mas não inspirado: ele retrataria os atos de um grupo religioso, de um “modelo de gestão eclesiástica” e não da igreja de Cristo.

A verdadeira igreja é orientada, encorajada, capacitada e usada pelo Espírito para os propósitos divinos. O poder do Espírito (virtude/capacitação) derramado sobre os salvos tem um objetivo: instrumentalizá-los para que sejam “testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra”. Em Atos vemos o Espírito Santo capacitando os salvos, dando-lhes ousadia, alegria, confortando, abrindo e fechando portas, orientando na pregação etc. O mesmo Espírito, com o mesmo poder e intenção, atua na igreja do presente.

4. A igreja segue sua trajetória motivada pela esperança de que Cristo voltará (vs. 9-11)

A ausência física do Senhor poderia ser motivo de desânimo para os discípulos. Os ensinos, as palavras encorajadoras, os momentos de oração e outras experiências do cotidiano com o Mestre deixaria uma saudade capaz de abrir uma lacuna em seus corações. Entretanto, lhes foi prometido um outro Consolador, bem como lhes foi feita uma promessa: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, eu já lhes teria dito. Pois vou preparar um lugar para vocês. E, quando eu for e preparar um lugar, voltarei e os receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, vocês estejam também” (João 14:2,3 — NAA).

Aqueles que viram o Senhor subir aos céus já haviam recebido a promessa de que Ele voltaria, e os levaria para Ele mesmo, para que estivessem juntos por toda a eternidade. Nós somos movidos por esta viva esperança. Sobre os heróis da fé, o escritor aos Hebreus declarou: “Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as promessas; mas vendo-as de longe, e crendo-as e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra” (Hebreus 11:13). A exemplo deles “não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que há de vir” (Hebreus 13:14). Paulo nos ensina que “a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Filipenses 3:20). Muitos outros textos falam da cidade realmente maravilhosa, para onde Cristo irá nos levar, mas, o mais importante, e por isso o céu é valioso, é que Ele estará lá, no meio de seu povo (Apocalipse 22:1-5).

A convicção da volta do Senhor nos fortalece, é a viva esperança que nos faz prosseguir.

Reflita

1. A Palavra (doutrina/ensino) de Cristo é fundamento e orientação para o agir da igreja durante sua peregrinação.

2. A convicção de que Cristo está vivo alegra e motiva a igreja a prosseguir;

3. O Espírito Santo é a fonte de poder que instrumentaliza os salvos.

4. A confiança de que Cristo voltará para levar sua igreja a faz prosseguir perseverante em sua trajetória vitoriosa.

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