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Pr. Cleber Montes Moreira
“Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.”
(Efésios 5:6)
O título desta reflexão é a frase, tomada de
outro contexto, com que um líder religioso finaliza uma postagem em
que afirma que Jesus não condenou a homossexualidade porque
“preferiu não julgar ou condenar, pois estava mais interessado em
amar e acolher”. No post, o autor admite a existência de
textos bíblicos contrários à prática, mas insiste que se forem
considerados, o leitor poderá “promover e justificar atrocidades”,
bem como afirma que a Bíblia precisa ser “contextualizada” e
“lida a partir da consciência do Evangelho e da centralidade do
amor”. Ele enfatiza que “a letra mata, mas o compromisso com o
Amor salva e promove vida”, e conclui: “Pecado é não amar.”
É certo que a Bíblia não é um livro de ódio,
que não autoriza nenhum tipo de violência e que revela o amor de
Deus “que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele
crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16).
Igualmente, o cristianismo verdadeiro não é uma religião de
intolerância e ódio, mas defensora das liberdades, incluindo a
liberdade de expressão e liberdade religiosa. Os cristãos não são
contra os homossexuais, contra seguidores de outras religiões, nem
segregadores, entretanto, a liberdade que defendem para os demais
defendem também para si. Assim, se alguém tem o direito de seguir
princípios religiosos destoantes do cristianismo, conservar práticas
e valores segundo sua consciência, também os cristãos têm direito
de preservarem seus valores, viver e expressarem sua fé sem medo ou
constrangimentos. Se, por exemplo, alguém crê que comer carne é
pecado, os cristãos têm o direito de pensar o contrário e agir
conforme sua consciência e firmados na Palavra Sagrada, sem,
todavia, que sua liberdade signifique ódio ou incentivo à
violência, uma vez que o Cristo nos ensina um modo mais excelente.
Como cristãos, defendemos a liberdade de pensar e de se expressar
como direito inalienável.
Em sua Declaração Doutrinária, os batistas da
Convenção Batista Brasileira tratam assim sobre o tema “Liberdade
Religiosa”:
Deus e somente Deus é o Senhor da consciência. A liberdade religiosa é um dos direitos fundamentais do homem, inerente à sua natureza moral e espiritual. Por força dessa natureza, a liberdade religiosa não deve sofrer ingerência de qualquer poder humano. Cada pessoa tem o direito de cultuar a Deus, segundo os ditames de sua consciência, livre de coações de qualquer espécie. A igreja e o Estado devem estar separados por serem diferentes em sua natureza, objetivos e funções. É dever do Estado garantir o pleno gozo e exercício da liberdade religiosa, sem favorecimento a qualquer grupo ou credo. O Estado deve ser leigo e a Igreja livre. Reconhecendo que o governo do Estado é de ordenação divina para o bem-estar dos cidadãos e a ordem justa da sociedade, é dever dos crentes orar pelas autoridades, bem como respeitar e obedecer às leis e honrar os poderes constituídos, exceto naquilo que se oponha à vontade e à lei de Deus.1
O fato de os cristãos conservadores considerarem
o aborto como prática pecaminosa não significa, de forma alguma,
que estejam ‘destilando’ ódio contra alguém, mas sim emitindo
opinião com base em seu entendimento das Escrituras, o que lhes é
garantido pela Constituição Federal, que considera “inviolável a
liberdade de consciência e de crença”2.
Da mesma maneira, quando o tema é Ideologia de Gênero,
homossexualidade, ou mesmo o ingresso de LGBTs nas igrejas, a posição
tradicional cristã contrária a tais práticas não indica
homofobia, ódio, nem incentivo à violência, mas posições e
conceitos formados a partir da leitura da Palavra de Deus.
Igualmente, quando tratando de outros temas afirmam que um ou outro
ato, ou comportamento, é pecaminoso, isso não
implica intolerância,
discriminação, preconceito etc., mas em opinião religiosa,
respeitosa e embasada.
Por defenderem as liberdades e direitos, como já
dito aqui, é que os cristãos não aceitam que qualquer código de
valores, regras, dogmas, ideologias etc., que violem direitos e/ou
liberdades sejam impostos arbitrariamente como padrão a ser seguido.
É por isso que não querem Ideologia de Gênero ensinada nas
escolas, nem distribuição de “kits” ou materiais que promovam a
homossexualidade no ambiente escolar. Até porque, se o comportamento
homossexual é algo natural, como alguns defendem, ele não precisa,
como a heterossexualidade, ser imposto e/ou incentivado. Estamos num
país livre, onde cada qual pode viver e agir conforme sua
consciência, sem, entretanto, ferir o direito alheio, impondo aos
demais o que considera ser para si natural e bom. Laborar para que o
comportamento de alguma minoria seja imposto como padrão comum e
normativo para a sociedade é tolher direitos e cercear a liberdade
de quem pensa e quer viver de outra maneira.
Os cristãos têm o direito de chamar de “pecado” qualquer
prática que assim considerem, à luz de seu entendimento bíblico.
Isso vale para o aborto, para o homossexualismo, bem como para
qualquer outra prática, sem, no entanto, consistir sua opinião em
preconceito, homofobia ou qualquer outro tipo de discriminação ou
violência. Opinião não é coisa a ser criminalizada num país
livre. Graças ao bom Deus, o Brasil é uma nação democrática, e
temos nossas liberdades e direitos garantidos.
Quanto a afirmação de que “Pecado é não
amar”, é preciso, com lucidez, colocar a coisa como se deve. A
frase, como estruturada, é reducionista e serve, propositalmente,
para lançar uma cortina de fumaça a fim de encobrir a verdade, e
isso é artimanha maligna para enredar pessoas e levá-las à
perdição. Tal sutileza cumpre perfeitamente seu objetivo de criar
uma atmosfera favorável para que pessoas justifiquem suas práticas
e, mesmo assim, se considerem na comunhão com Deus. Se as palavras
forem devidamente ordenadas, temos “Não amar é pecado”, e nisso
há sentido. Dizer que “pecado é não amar” é o mesmo que
afirmar que o único pecado é não amar, enquanto dizer que “não
amar é pecado” não nega a existência de outras práticas
condenadas nas Escrituras. A ideia de pecado deve ser concebida na
inteireza e abrangência do ensino bíblico, sem reducionismo ou
relativismo, para que ninguém fique desavisado sobre a severidade do
juízo divino sobre os pecadores não arrependidos. Qualquer outro
discurso consistirá em “palavras vãs”, cujo propósito já
sabemos (Efésios 5:6).
Tenha em mente que as afirmações cristãs feitas
com base bíblica, quando da abordagem de temas tão polêmicos e
relevantes, não devem ser consideradas preconceituosas, odiosas,
homofóbicas ou incentivadoras de qualquer violência, e sim como
declarações de verdade, desnudas, graves, porém cheias de amor
verdadeiro, como o amor de um pai que avisa seu filho com gravidade
sobre algum perigo a ser evitado. Tais declarações são de cunho
religioso e não intencionam desencadear guerra contra pessoas ou
classes, uma vez que os cristãos sabem que não têm “que lutar
contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados, contra as
potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as
hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Efésios
6:12).
Jesus sempre marcou posição
firme sobre o pecado e a necessidade de arrependimento. Certa feita,
ele disse: “Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados,
porque se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados”
(João 8:24). Seu discurso jamais anulou seu amor, tanto que morreu
pelos pecadores; bem como seu amor nunca cooperou para atenuar suas
falas severas e cheias de Verdade (João 6:60,66). À mulher adúltera
amou e perdoou, porém a advertiu dizendo “vai-te e não peques
mais”, mostrando-lhe o caminho do arrependimento como condição
para uma nova vida (João 8:11). A mesma Bíblia que diz que “Deus
é amor” (1 João 4:8) é a mesma que diz que “horrenda
coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hebreus 10:31), e que o
Poderoso “tem determinado um dia em que com justiça há de julgar
o mundo” por meio do Cristo ressurreto (Atos 17:31). Falar de amor
e ocultar o juízo divino é desonestidade. Dizer que Jesus “preferiu
não julgar ou condenar, pois estava mais interessado em amar e
acolher” é politicamente correto, mas faz parte de um discurso
mentiroso e diabólico. Afirmar que textos bíblicos que tratam sobre
pecados, se levados em conta pelo leitor, poderão “promover e
justificar atrocidades”, é desqualificar a Palavra de Deus,
atribuir-lhe ódio e violência, e esvaziá-la da Verdade. O
evangelho, quando reduzido à mensagem moderna de “amor”, deixa
de ser “o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê”
(Romanos 1:16), e torna-se uma doutrina do diabo para arrebanhar
almas incautas. Este falso amor que exclui a realidade do juízo é
porta larga que conduz à perdição e, portanto, deve ser evitada.
Pense nisso!
1 Declaração
Doutrinária da CBB, “XV- Liberdade Religiosa”:
http://www.batistas.com/portal-antigo/index.php?option=com_content&view=article&id=15&Itemid=15&showall=1
(acessado em 21 de abril de 2018).
2 Constituição
Federal, Art. 5º, inciso VI,
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
(acessado em 24 de abril de 2018)
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