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Pr. Cleber Montes Moreira
“Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não
vim trazer paz, mas espada.” (Mateus 10:34 – Leia de 17 a 39)
Faz muito tempo que li este texto pela primeira
vez. Era ainda um adolescente e, confesso, fiquei chocado. Como
poderia aquele que veio movido por tão grande amor, para salvar,
fazer tão grave confissão? Como poderia aquele que foi intitulado
“Príncipe da Paz”, ao invés de paz, promover a discórdia entre
pessoas? E mais, Jesus ainda disse: “Porque eu vim pôr em
dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a
nora contra sua sogra; e assim os inimigos do homem serão os seus
familiares” (vs. 35,36). Percebam que Ele, ao invés de promotor da
paz, se apresenta como causa de discórdia entre pessoas, a começar
na própria família. Um dia, depois de certo tempo, compreendi tal
ensino, e meu coração descansou.
A palavra traduzida por espada indica ‘confusão’
e ‘conflito’, e é exatamente o que Jesus provoca entre certas
pessoas. Há muitos relatos de muçulmanos que, ao receberem a Cristo
como Senhor e Salvador, foram expulsos de suas casas, perseguidos,
presos e até mortos, muitas vezes sendo denunciados por gente da
própria casa. Há casos de esposas convertidas que foram abandonadas
por seus maridos. Há muitos relatos de contendas em famílias por
causa de alguém que tenha experimentado a nova vida em Cristo. É
como está escrito: “E o irmão entregará à morte o irmão, e o
pai o filho; e os filhos se levantarão contra os pais, e os matarão”
(v. 21). Estes conflitos, porém, transcendem as casas, ocorrendo
também nas escolas, no trabalho, e onde quer que um novo crente é
visto com um ‘olhar atravessado’. Há discórdias entre
religiosos, guerras entre nações, perseguições coordenadas, tudo
por causa do nome de Jesus. O que dizer da Inquisição Católica? E
da Inquisição Protestante? Quanto mal já foi cometido pelo ódio
ao Senhor, ou, equivocadamente, em nome dele? A doutrina que une é a
mesma que separa. A causa não está em Cristo e seus ensinos, mas no
coração do homem.
Eu vejo, na Bíblia, uma explicação para isso:
“Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta,
espalha” (Mateus 12:30). A doutrina do Mestre provocou repulsa nos
escribas e fariseus. O evangelho ainda é objeto de ódio pelo mundo.
Porém, a mesma doutrina que divide, une aqueles que, por conhecerem
a Verdade, foram por ela libertos. Os salvos são aqueles que
perseveram, unidos – em santa comunhão – na mesma dou-tri-na
(Atos 2:42). Portanto, as opiniões sobre Cristo podem dividir, a
teologia pode separar pessoas, o denominacionalismo religioso pode
ser motivo de guerras, os “achismos” podem servir de discórdia,
o evangelho pode despertar o ódio de opositores, mas a Verdade, e
somente a Verdade, une aqueles que nela creem e por ela vivem. É
assim que Cristo traz paz, mas também confusão. Por causa da fé
somos amados por uns e odiados por outros. Está escrito: “E de
todos sereis odiados por causa do meu nome” (Lucas 21:17).
Negar a Cristo, ou confessá-lo diante dos homens
(vs. 32,33)? E se por causa do Salvador perdemos amigos, o amor da
família e formos rejeitados e/ou perseguidos? Que fazer? Abandonar a
fé, ou perseverar? Escolher a Cristo, ou àqueles que amamos? A
resposta está no próprio texto: “Quem ama o pai ou a mãe mais do
que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do
que a mim não é digno de mim” (v. 37). Portanto, se tivermos que
escolher entre estar em paz com as pessoas ou com o Senhor,
escolhamos o Senhor. Se nosso viver em Cristo soa como uma
“declaração de guerra”, que não retrocedamos, jamais, da fé
naquele que nos salvou.
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