TEMPOS DIFÍCEIS | Pastor Cleber
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TEMPOS DIFÍCEIS


Pr. Cleber Montes Moreira


Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.” (2 Timóteo 3:1)


Marquinhos havia completado 15 anos. Era um jovem educado, atencioso e muito interessado nos estudos. Recentemente seu pai observara alguma mudança em seu comportamento, alguma inquietude, mas não sabia do que se tratava, apenas que estava diferente, estranho... Tentara conversar com ele algumas vezes, mas sem sucesso. Finalmente, naquela tarde, Marquinhos decidiu que iria contar tudo, pois guardar aquilo o deixava cada vez mais angustiado. Foi quando, então, sem qualquer rodeio, desabafou:

- Pai, eu sou um pássaro.
- Como? Não entendi, pode repetir?
- Eu disse que sou um pássaro. Estou falando sério; não é brincadeira.
- Pássaro?
- Sim.

Antônio pensou que o filho estivesse brincando, porém, como insistia, ficou convencido de que falava sério. Podia estar perturbado, confuso, doente… (pensou). Deixou que continuasse explicando, imaginando que em falando poderia revelar mais precisamente seu problema, e assim ter como ajudá-lo.

- Na escola aprendemos que ninguém nasce gente. Essa coisa de que todos nascemos humanos é fruto de uma cultura impiedosa cultivada há anos por esta sociedade opressora. Cada um tem o direito de escolher ser o que quiser, sem interferência, sem a necessidade de sentir-se culpado, de ter que se explicar, e eu não me deixarei ser manipulado por ninguém. Eu sou um pássaro, me sinto como um, e quero ser livre como são os passarinhos.
- Filho, creio que precisamos buscar ajuda.
- Não. Não preciso de ajuda. Estou bem. Sabia que não entenderia, mas não estou decepcionado. O senhor não teve a mesma educação e, portanto, não tem a obrigação de entender como as coisas realmente são.

E tentou explicar um pouco mais:

- Da mesma forma que meninos não nascem meninos, e meninas não nascem meninas, ninguém nasce gente. Cada um é livre para ser o que quiser, quando e como quiser. É esta liberdade que torna a vida fascinante. Há quem escolha ser cachorro, há quem escolha ser gato, há quem escolha ser cavalo… há burros, há antas, há macacos, há papagaios, há veados… cada qual escolhe o que ser enfatizou!.

O pai, achando que a conversa já estava indo longe demais, propôs continuar noutro momento para entender melhor o assunto, calculando que teria tempo para pensar no que dizer e em como ajudar o filho. Depois de beijar-lhe na testa, saiu para pagar algumas contas na lotérica e buscar resultados de exames médicos, prometendo não demorar.

Marquinhos era órfão de mãe desde os 11 anos, e morava sozinho com o pai. Embora fossem amigos, tinha dificuldades em se abrir com ele sobre certos assuntos. Para falar de sua “opção” teve que tomar muita coragem.

O rapaz realmente não estava bem; parecia transtornado. No silêncio e solidão do apartamento onde morava, no décimo sexto andar, pensou: “Se sou um pássaro, tenho que agir como um”, e assim tomou providências. Em poucos minutos um cenário horrível e de morte havia sido formado, para a perplexidade de quem transitava pela principal avenida do bairro: um corpo dilacerado, sustentado pelas lanças da pequena grade que separava o jardim da calçada, rodeado de curiosos e espantados – o rapaz alçara voo da janela de seu quarto, porém se esquecera de que não tinha asas.

Se você pensa na impossibilidade de um quadro como o narrado acima, se engana, a “Ideologia de Espécie” já existe e é reconhecida em vários países. Em 2016 o site “Gospel Prime” publicou notícia com o seguinte título: “ ‘Ideologia de espécie’ faz 10 mil ingleses viverem como cachorros” [1]. O site “Exateus” também publicou matéria sobre o assunto em que cita o caso da “francesa Karen, que nasceu homem, fez cirurgias para trocar de sexo e agora quer ser um cavalo. Ele (a) conta que essa ideia o persegue desde que tinha sete anos de idade”, e de “uma jovem que disse que é uma gata presa em um corpo humano” [2]. Imagino que em algum momento alguém dirá “eu sou um automóvel”, “eu sou uma cadeira”, “eu sou uma pedra”, “eu sou um repolho”, “eu sou uma abóbora”, “eu sou uma bananeira” e encontrarão respaldo na ciência e nas leis, pois assim como ocorre com a “Ideologia de Gênero” a questão não poderá ser tratada como doença ou anomalia, mas como opção, e as pessoas não poderão procurar ajuda, já que os profissionais capacitados, bem como religiosos bem intencionados serão proibidos de atendê-los. Pior que isso, talvez algumas igrejas comecem a ter o mesmo entendimento secular sobre estes casos vendo-os do prisma de uma reinterpretação das Escrituras, e até formulando uma nova hermenêutica que os expliquem como sendo parte da diversidade criada pelo próprio Deus, pois é exatamente o que ocorre com a “Ideologia de Gênero”. Quem ousar pensar diferente será tido como arcaico, fundamentalista, legalista, homofóbico etc., podendo, inclusive, ser penalizado perante a lei por sua “discriminação” e “preconceitos”. “Onde já se viu não aceitar que o filho seja um melão? Em que mundo nós estamos?”

No Brasil, e em muitos outros países, os governos tem trabalhado pela inclusão da “Ideologia de Gênero” nas escolas. Sempre há uma nova investida, mesmo diante da recusa da sociedade. Na Suécia e na Holanda existem escolas onde não se pode chamar o aluno de menino e a aluna de menina, são chamados apenas de crianças, porque elas devem decidir quando crescerem se serão homens ou mulheres [3]. Imagina uma jovem formada, com belos seios, vagina, útero e ovários dizendo que decidiu ser homem! É tão racional quanto um jumento decidir que não é mais jumento, que é uma baleia. Pergunto: da perspectiva da biologia tal “opção” é razoável? Não! Mas você pode argumentar que jumentos não tomam tal decisão. Será?

Certas militâncias reclamam que querem apenas fazer valer seus direitos, o que é, na verdade, uma estratégia de discurso. Querem mais que isso, querem impor um padrão. Querem transformar a exceção em regra para todos; querem amordaçar a sociedade e combater qualquer que ouse pensar diferente.

No site “padrepauloricardo.org” lemos:

“Na Alemanha, um casal, pai de nove filhos, está ameaçado de perder a liberdade, porque sua filha se negou a participar das aulas de “educação sexual" previstas para a escola primária. A polícia alemã já encarcerou Eugen Martens, em agosto de 2013, e só não prendeu ainda sua esposa, Luise, porque ela está amamentando o filho mais novo. O agente policial que visita a família, no entanto, garante: “O escritório da promotoria fará aplicar a decisão do juiz". Ou seja, mais dia ou menos dia, também a mãe será presa.”[4]

Já o site “Consultor Jurídico” publicou matéria com o seguinte título: “Em Ontário, pais podem perder filhos se recusarem identidade de gênero” [5]. Nova lei estipula que o governo pode tirar os filhos de famílias que não aceitam suas “identidades de gênero” ou suas “expressões de gênero”. A justificativa é que a legislação deve ser centrada na criança e nos seus interesses, e não nos pais.

Em 2013 um menino de seis anos, na Argentina, mudou de sexo e recebeu uma nova certidão com um nome feminino. Não tem útero, não tem vagina, não menstrua, não poderá engravidar e ter filhos, mas é me-ni-na! E desde quando uma criança de seis anos tem maturidade para decidir sobre algo que mudará sua vida para sempre, inclusive afetando drasticamente o psicológico?! Caso a decisão tenha sido autorizada pelos pais, trata-se de um crime.

Em 2016 o site G1 publicou: “Menino consegue na Justiça mudar para gênero feminino e trocar de nome.” O juiz de Sorriso (MT) que autorizou a mudança apresentou a seguinte justificativa: “Ele nasceu com anatomia física contrária à identidade sexual psíquica” [6]. Hoje é possível que qualquer pessoa tenha em seus documentos o seu “nome social”.

Já o site “Raciocínio Cristão” deu a seguinte notícia: “Criança de 4 anos iniciará processo de mudança de sexo – Pastora gay apoia.” [7]

Jesus disse: “Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome.” E também alertou: “Nesse tempo muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se odiarão.” E no verso seguinte cita os falsos profetas (Leia Mateus 24:9-11). Este tempo chegou, é agora. No mundo há perseguição aos salvos, e nos arraiais evangélicos há traição. Os “evangélicos inclusivos” travam uma luta, ainda não percebida por muitos, contra os que ainda conservam a Palavra em sua essência. Esta luta, por enquanto, é de palavras, está no campo intelectual. Os heréticos avançam com discursos sobre “amor”, perdão, tolerância e outras sutilezas e vão penetrando nas igrejas bíblicas e minando suas bases. Agem principalmente sobre os jovens e se utilizam dos seminários teológicos para inculcarem nos que se preparam para servir as ideias da “luta”. Aqueles que são formados com esta mente são os que vão exercer o pastorado, liderança de jovens e adolescentes, e depois lecionar nos seminários onde continuarão disseminando a “causa”.

O mundo está em desordem. Uma nova “verdade” está sendo apregoada, não apenas destoante, mas ofensiva aos princípios e valores da Palavra de Deus, norte do cristão. O maioria tem escolhido as benesses e facilidades do caminho largo. Mas, a verdade não está, e nunca esteve, necessariamente, com a maioria. Engana-se que pensa que “a voz do povo é a voz de Deus”. Em mar de peixes mortos, apenas os vivos são capazes de nadar contras correntezas.

Paulo já havia avisado: “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos” (2 Timóteo 3:1). Tempos trabalhosos, tempos terríveis, tempos penosos… há muitas formas de descrevermos os tempos difíceis aos quais o apóstolo se refere. Fato é que estamos vivendo, neste tempo, as realidades mencionadas pelo escritor bíblico. Quanto mais reconhecemos isso, mais necessário se faz que os verdadeiros cristãos marquem posição firme, independente das consequências. É hora de entendermos e assumirmos a condição do apóstolo que disse: “Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; somos reputados como ovelhas para o matadouro” (Romanos 8:36). Sabendo que “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos” (2 Coríntios 4:8,9). Afinal, Deus está conosco, e não devemos temer “os que matam o corpo e, depois, não têm mais que fazer” (Lucas 12:4).

Que sejamos fieis ao Senhor, à Sua Palavra, e em momento algum cedamos ao relativismo que nos é proposto pelo reino deste mundo; que não negligenciemos aqueles que, antes de nós, deram seus corpos e sangue, em sacrifício, por amor a Deus e ao evangelho.

Saibamos que nossa luta não é contra pessoas, como diz a Palavra Santa: “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Efésios 6:12).

Compreendamos ainda que, embora nossa luta se de no campo das ideias, ideias são formuladas por pessoas, e por isso o conflito, em algum momento, é inevitável. Busquemos sabedoria do alto, não lutemos com nossas forças, mas com as armas e a força do Espírito, sempre na dependência e como instrumento daquele a quem servimos.

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