“Não julgueis, para que não sejais julgados”
(Mateus 7:1)
Pr. Cleber Montes Moreira
Quando pessoas fazem tais afirmações sobre
boatos que circulam a respeito de outras, sejam do círculo de sua
convivência, da sociedade local, de celebridades, políticos etc,
sobre qualquer assunto, acabam, ainda que inconscientemente, usando
uma regra preconceituosa para medir a todos, indistintamente. Eu
chamo isso de “prejulgamento”, ou seja, estabelecer opinião,
juízo, julgamento, firmado em suposições. Com base nesta regra,
qualquer calúnia será tida como verdadeira, pois “onde há fumaça
há fogo”, ou “já houve”, e “o povo aumenta, mas não
inventa.”
Em 2014, Fabiane Maria de Jesus, aos 33 anos de
idade, foi vítima deste tipo de prejulgamento. Ela faleceu dois dias
após ser espancada pode dezenas de moradores de Guarujá, litoral de
São Paulo, por ser parecida com uma pessoa de uma foto que circulava
na internet, supostamente sequestradora de crianças para utilizá-las
em rituais de magia negra. Bastou que alguém a “reconhecesse”
como a pessoa da foto para que outras, baseadas neste
“reconhecimento”, fizessem “justiça com as próprias mãos.”
Detalhe: a nota divulgada na internet, desencadeadora da confusão,
era falsa.
Outro caso, ocorrido há mais tempo, foi de um
casal que fazia transporte escolar na Cidade de São Paulo, acusado
de abusar sexualmente das crianças que transportava. A notícia
ganhou notoriedade na TV e nos jornais. Os acusados tiveram sua vida
devassada. A cada dia surgiam novas denuncias e testemunhos sobre
crianças violentadas. Pela opinião pública, o casal já estava
julgado – era, sem qualquer dúvida, culpado! Entretanto, após
tanto barulho houve um longo silêncio: as emissoras de TVs, os
jornais televisivos e impressos pararam de noticiar sobre o assunto.
É que descobriu-se que o casal era inocente. O Ministério Público
deu o caso por encerrado, e permitiu a troca dos nomes dos acusados
para que pudessem iniciar uma vida nova. Mas, o prejuízo foi
incalculável e as feridas criaram marcas que ficarão para sempre na
memória.
No dois casos citados, a sabedoria popular revelou
ser uma enorme ignorância: havia fumaça, mas não fogo; o povo
inventou e aumentou, sem dó nem compaixão, com o agravante de
falsos testemunhos. É certo que até aqueles que fazem uso de tais
regras, não querem ser julgados pelos mesmos critérios. Este
julgamento impiedoso, injusto e punitivo é severamente combatido por
Jesus: “Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o
juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que
tiverdes medido vos hão de medir a vós” (Mateus 7:1,2).
Comentando o ensino de Jesus, William Barclay disse bem: “Houve
tantos casos de julgamentos equivocados que se acreditaria que os
homens deveriam aprender a abster-se totalmente de julgar a outros.”
Os juízes erram, quanto mais as pessoas comuns.
“Ouvi dizer” não é, necessariamente,
verdade. Nossa opinião deve ser formada com base nos fatos, e não
em boatos. Cuidado com as calúnias, além de ser pecado têm poder
destruidor. Podemos formular juízo, opinião embasada, mas não
estabelecer prejulgamentos e condenações. Deus nos deu senso
crítico, mas não nos constituiu juízes. E, finalmente, a Bíblia e
não a “sabedoria” popular deve reger nossas convicções e
ações.
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