Os empreendimentos religiosos se sustentam por duas iniciativas: o desejo do (in)fiel, incauto, que busca soluções e/ou prosperidade fácil, e a ambição do lobo voraz, aproveitador, falsário da Palavra. Ambos pecam pelo apetite carnal e se afastam cada vez mais de Deus; o primeiro, às vezes, pela ignorância (e ganância), o segundo pela má-fé
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“E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade. E por avareza farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita.” (2 Pedro 2:1-3)
Pr. Cleber Montes Moreira
O que é uma vara de condão? É uma pequena vara usada por fadas, feiticeiros, mágicos e afins, que supostamente tem atributo especial ou poder sobrenatural para exercer uma influência negativa ou positiva e, hipoteticamente, mágica. Enquanto escrevo estas primeiras linhas, meu filho de seis anos* lê e observa:
— Pai, isso não existe!
Tudo bem, não se desespere, pois a Teologia da Prosperidade criou, faz algum tempo, diretamente de sua oficina, a caneta ungida. As esferográficas made in China, ungidas pelo “homem de deus” em algum monte por aí, prometem ser a vara de condão para quem quer passar em provas, concursos públicos, assinar contratos, abrir empresas etc. Para ter uma, basta ofertar, quer dizer, semear, a pequena quantia de cem reais. Uma proposta tentadora, já que os benefícios trazem retornos infinitamente maiores.
Pesquisando sobre o assunto, encontrei num site de leilões e compras virtuais uma caneta de marca nacional, também ungida, e cujo anúncio contém as mesmas promessas. Não sei se uma franquia da loja anterior, digo, igreja, ou se algum novo empreendedor, digo, homem de deus, que abriu concorrência. Fato é que já existem outros “investidores” oferecendo o mesmo produto, um gritando mais alto que o outro para atrair a freguesia.
Não é de hoje que objetos ungidos têm sido colocados nas prateleiras do mercado da fé. Água ungida, sal ungido, lenços, mantos, óleos, alianças, saquinhos de cimento, tijolos, colher de pedreiro, chaves, rosas, meias de algodão, lâmpadas benzidas em Israel, vassouras, kits de beleza, rendinha do milagre, fronha… Ufa! Quase perdi o fôlego. Não dá para listar aqui todos os itens, até porque O Fantástico Mundo dos Empreendedores da Fé sempre surpreende com alguma novidade1. É a lei da oferta e da procura que viabiliza os negócios de quem vende e quem compra. Chamar isso de evangelho é apenas questão de marketing; usar a Bíblia e afirmar falar em nome de Deus sempre dá bons resultados. A “fé”, sem a qual o “milagre não acontece”, é a “vara de condão” dos encantadores.
Os empreendimentos religiosos se sustentam por duas iniciativas: o desejo do (in)fiel, incauto, que busca soluções e/ou prosperidade fácil, e a ambição do lobo voraz, aproveitador, falsário da Palavra. Ambos pecam pelo apetite carnal e se afastam cada vez mais de Deus; o primeiro, às vezes, pela ignorância (e ganância), o segundo pela má-fé.
Se você busca sinceramente a Deus, esteja atento: Varinha de Condão não existe! Nossa esperança em Cristo não deve ser apenas para este mundo (1 Coríntios 15:19). O evangelho não é uma promessa de soluções fáceis, imediatas e temporais, mas a Boa Nova de perdão e salvação para aquele que, pela fé, renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz e seguir após o Salvador (Lucas 9:23).
* Texto escrito em 2018
1 Veja aqui alguns destes objetos “ungidos”: https://www.youtube.com/watch?v=0o6rciU1SHY (acessado em 19 de abril de 2018).
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