Conteúdo Cristão para sua edificação
“COM CRISTO NO BARCO TUDO VAI MUITO BEM”, SEMPRE?

Pr.
Cleber Montes Moreira
“E
se levantou grande tempestade de vento, e as ondas batiam no barco,
de modo que já se enchia” (Marcos 4:37 - BKJF)
Recordo-me de uma canção antiga que as crianças
cantavam em nossas igrejas, cuja letra diz:
Com Cristo no barco tudo vai muito bem,
Vai muito bem, vai muito bem.
Com Cristo no barco tudo vai muito bem,
E passa o temporal (…).
Em virtude da pregação de certos falsos
profetas, pessoas são levadas e pensar na vida cristã como sendo
isenta de problemas. “Pare de sofrer” é visto como um portal
para a felicidade, para um tipo de vida acima das circunstâncias
deste mundo, sem sofrimentos, sem dissabores, sem contratempos…
Porém, vejo que muita gente que entra por ele em algum momento se
decepciona. No início há muitas expectativas, mas, com o tempo, com
o desgaste da esperança em promessas que não se cumprem, os
iludidos chegam finalmente à percepção de que se trata de um
caminho de engano, usado por oportunistas de plantão para satisfazer
sua ganância.
Ser cristão não nos coloca numa condição tal
que estejamos livres de adversidades. O contexto de Marcos 4:35-41
nos mostra que mesmo com a presença do Senhor no barco, os
discípulos enfrentaram terrível tempestade, de modo que ficaram
apavorados diante da fúria da natureza; não foram poupados, mas
tiveram a oportunidade de exercitarem a fé e contemplarem o seu
poder. Eles foram confrontados com sua fragilidade e impotência
diante de situação tão grave, fora de seu controle, e levados a
recorrerem ao Salvador como a única esperança.
Com Cristo no
barco tudo vai muito bem,
sempre? Não! Porém, mesmo
que o mar se revolte, mesmo que os ventos sejam ameaçadores, há paz
e segurança pelo Seu poder. Com
ele, sempre passa o temporal.
COMUNHÃO BÍBLICA
Atos
2:46,47
46
– E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o
pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração,
47
– Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os
dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar.
INTRODUÇÃO:
Observem que a palavra comunhão não está
no texto, mas sim o seu sentido. As versões bíblicas corroboram
este entendimento com as seguintes traduções: “perseverando
unânimes todos os dias” (ACRF); “diariamente perseverando
unânimes” (SBB); “perseverando todos os dias concordemente”
(BKJF); “diariamente, continuavam a reunir-se” (BKJA); “todos
os dias, continuavam a reunir-se” (NVI) etc. Assim os crentes
estavam juntos, no templo e nas casas.
Champlim1
explica que:
Os crentes comiam juntos, em grande alegria, porquanto suas vidas haviam assumido um novo propósito e destino. Faziam isso com Jesus como Senhor, enriquecendo as suas vidas. Note-se como Cristo se tornou o centro de toda a vida dos crentes; e sem dúvida isso é o segredo de sua intensa devoção (…).
A significação literal dessa palavra, “singeleza” (que não ocorre em qualquer outra porção do N.T.) era a ideia da suavidade do solo, sem pedras. Daí passou a significar igualdade e unidade de caráter. Tal unidade de caráter podia ser demonstrada pelo amor mútuo, pela pureza, pela devoção intensa, sem mistura ao Senhor Jesus, porquanto se consagravam supremamente a ele, de tal modo que nenhuma “pedra” do ego e do pecado estava misturada com a igualdade deles, com o seu caráter singular (…).
Segundo a mesma fonte, “Partindo o pão em
casa” é uma referência a observância da celebração da Ceia
do Senhor, que estava vinculada à refeição vespertina dos crentes.
A cada vez que se reuniam pela manhã, como também em outras
refeições, provavelmente, partiam o pão e observavam o rito da
Ceia, que mais tarde passou a ser celebrada nas congregações, de
maneira mais formal, no primeiro dia da semana, como memorial da
ressurreição e da promessa da volta de Cristo.
Assim, as reuniões cristãs eram
marcadas pelo “partir o pão” e comer “juntos com
alegria e singeleza de coração”.
Em Corinto os ajuntamentos perderam seu
significado, de forma que Paulo diz: “Nisto, porém, que vou
dizer-vos não vos louvo; porquanto vos ajuntais, não para melhor,
senão para pior… De sorte que, quando vos ajuntais num lugar, não
é para comer a ceia do Senhor. (1 Coríntios 11:17, 20). Havia
encontro, celebração, mas não havia comunhão!
Que nossos encontros não sejam somente de
“comemoração”, mas de “comunhão”, uma vez que é preciso
distinguir tais ajudamentos: Comer + morar dá a ideia de
comida e moradia – comer e morar juntos – o que não denota
unidade, podendo indicar apenas um festejo. Comunhão é termo mais
abrangente e próprio para designar a vida em unidade da igreja.
Em Atos os crentes se reuniam em torno da mesa, e
também da doutrina. Assim aqueles irmãos não apenas se encontravam
festivamente para celebrarem, mas viviam concordemente, unânimes,
com um mesmo sentimento, comungando princípios e valores doutrinais,
bem como afeto e bens, exercitando a fé e o cuidado mútuo. Percebam
ainda que a “comunhão” era no sentido vertical e
horizontal: o que os mantinham unidos na Terra era a sua união com
Deus em torno dos ensinos de Cristo – “e perseveravam na
doutrina dos apóstolos” e “todos os que criam estavam
juntos” (vs. 42 e 44) – doutra maneira nenhuma igreja poderá
experimentar a verdadeira comunhão cristã.
Enfatizo que o elemento aglutinador desta comunhão
é a doutrina de Cristo, e não o amor, como tem sido ensinado
erroneamente. Não é o amor que gera a unidade cristã, mas sim a
Verdade que une os que à ela convergem. A doutrina nos ensina a
amar como Cristo amou, e promove a unidade dos filhos de Deus em
torno da Palavra. Vejam que Paulo não nos ensina seguir o amor, mas
seguir a verdade em amor, quando diz: “Antes, seguindo a verdade
em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça,
Cristo” (Efésios 4:15 – grifo do autor). A verdade nos ajuda
a crescer em tudo, inclusive em amor.
1 – O PRAZER DE ESTAREM JUNTOS (v.46)
“E, perseverando unânimes todos os dias no
templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com
alegria e singeleza de coração” (Atos 2:46 – grifo
do autor).
As reuniões eram constantes, no templo e nas
casas. A nota do texto bíblico que denota prazer nestes
encontros é “juntos com alegria”. O crescimento cristão
acontece quando “juntos” e com “alegria”
cultuamos a Deus, oramos, buscamos conhecimento em sua Palavra,
exercemos nossos dons para bem do próximo, proclamamos a salvação
etc. A igreja existe porque “juntos” a formamos, daí a
ideia de “edifício”, usada por Paulo:
Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina;
No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor.
No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito.
Efésios 2:20-22
“Juntos” porque somos corpo e edifício,
e não ilha, porque somos família de muitos irmãos, porque
pertencemos à comunhão dos salvos. “Alegria” porque a
vida cristã, embora gere oposição e exija sacrifícios, não é um
fardo, mas um privilégio, de modo que deve ser exercida com alegria,
e não com murmurações. “Alegria” porque “Oh! quão
bom e quão suave é que os irmãos vivam em união” (Salmos
133:1); porque “A minha alma está desejosa, e desfalece
pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne clamam pelo
Deus vivo” (Salmos 84:2); porque “Alegrei-me quando me
disseram: Vamos à casa do Senhor” (Salmos 122:1); porque nosso
contentamento está em Deus, porque nos alegramos com os irmãos,
porque nos alegramos quando pessoas crescem no conhecimento da
Palavra, porque nos alegramos quando vidas são salvas, porque nos
alegramos em servir, porque nos alegramos quando a igreja segue
cumprindo a missão… A comunhão cristã frutifica em alegria.
Será que a alegria contagiante entre os primeiros
cristãos é também realidade entre nós?
Prazer significa, dentre outras coisas,
“sensação agradável de contentamento ou de alegria, normalmente
relacionada à satisfação de um desejo, vontade ou necessidade”
2.
Temos tido prazer na vida com Deus e com os irmãos?
2 – COMUNHÃO E MULTIPLICAÇÃO (v. 47)
A comunhão bíblica e, portanto saudável, cria
uma atmosfera propícia ao trabalho do Espírito Santo e facilita a
multiplicação. Apenas destaco que a multiplicação não é algo
que se exige, que se conquista com estratégias meramente humanas,
que não pode ser programada ou agendada, que não acontece pela
implantação de um modelo de gestão etc. É como o crescimento
físico: os pais esperam que os filhos cresçam por que isso é
natural. Quando não acontece, procuram ajuda médica para que seja
identificado o problema. Da mesma forma, é natural que a igreja
cresça, e se isso não ocorre é preciso verificar o que está
havendo.
Também é importante reconhecer que crescimento
numérico nem sempre é crescimento qualitativo, embora o crescimento
qualitativo possa desencadear o crescimento numérico. Não devemos
confundir adesão com conversão, nem reuniões “animadas”,
festivas, com comunhão saudável.
Outra coisa
que preciso salientar: Não é exatamente a comunhão dos salvos que
produzirá novos salvos, como tem sido ensinado por aí, mas a
pregação clara e descontaminada da Palavra de Deus. Embora a vida
em comunhão sirva como testemunho que corrobora a pregação, é o
evangelho ainda o único “poder de Deus para a salvação de
todo aquele que crê” (Romanos 1:16), e o modo como o Espírito
Santo trabalha para o convencimento do pecador ainda consiste em que
“a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus (Romanos
10:17). Para isso não há alternativas. O amor atrai, mas é a
Verdade que liberta (João 8:32 e 36). Não foi observando o amor
entre os irmãos, mas ouvindo a mensagem da Verdade que pessoas com
corações compungidos perguntaram “Que faremos, homens
irmãos?”, e chegaram ao arrependimento (Atos 2:37). Se “todos
os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles iam sendo salvos”,
é porque a igreja, além da vida comunitária, em obediência ao
Senhor, alcançava os de fora com a pregação (Atos 2:47): “Como,
pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele
de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue?”
(Romanos 10:14).
Tendo feito tais considerações, destaco a
importância da comunhão para a multiplicação: se a comunhão não
é o elemento desencadeador da multiplicação, é a propiciadora do
ambiente que gera prazer e alegria no serviço cristão, permitindo,
dentre outras coisas, a cooperação sadia e produtiva dos crentes na
obra. Sem a comunhão, a igreja local é como uma casa dividida,
“e, se uma casa se dividir contra si mesma, tal casa não pode
subsistir” (Marcos 3:25). Esta verdade também pode ser
ilustrada com o que ocorre com um time de futebol: se cada jogador
jogar para si mesmo, os resultados não virão. Da mesma forma, se
num canteiro de obras cada operário trabalhar independente do outro,
sem seguir um plano, sem liderança, a conclusão do projeto ficará
prejudicada. Portanto, cooperar com alegria, servir com prazer,
fazer todas coisas para a glória de Deus, considerar sempre a
importância do outro e zelar pela comunhão são atitudes que
contribuem e facilitam o cumprimento da missão.
CONCLUSÃO:
Considero que a igreja tem duas grandes obras no
mundo: edificar os salvos e ganhar os perdidos. Realizando isso ela
cumprirá a razão de sua existência: GLORIFICAR A DEUS! E, quando
os crentes servem num ambiente de comunhão bíblica, portanto
saudável, o trabalho cristão é ainda mais prazeroso e dinâmico, e
Deus é honrado. Por isso todos devem cooperar e zelar pela comunhão
entre os irmãos.
Concluo apresentando o texto a seguir como um
desafio: “E consideremo-nos uns aos outros, para nos
estimularmos ao amor e às boas obras, não deixando a nossa
congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns
aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele
dia” (Hebreus 10:24,25).
Pr.
Cleber Montes Moreira
Em
paralelo ao Estudo 5 da Revista Palavra e Vida, Primeiro Trimestre de
2018.
Em
04 de fevereiro de 2018, na TIBI
1 O
Novo Testamento Interpretado Versículo Por Versículo, Volume III,
Russell Normam Champlim, Ph. D., página 76.
2 https://www.dicio.com.br/prazer/
(acessado em 30 de janeiro de 2018).
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